14.8.08

Pontuação

Vírgulas a mais

Estou cada vez mais convicto de que existem usos arbitrários deste sinal de pontuação, ainda que não o aparentem. Tome-se este excerto da obra Algumas Distracções, de Francisco José Viegas, já aqui citada: «Aliás, uma das coisas que mais me preocupa hoje, em Portugal, é a tendência para que a opinião individual desapareça diante das chamadas “opiniões maioritárias” — é cada vez mais rara a figura do colunista, do cronista ou do cidadão comum que arrisca a sua opinião sem cuidar das consequências e do desprestígio que uma “má opinião” lhe pode trazer. Alguns, perdem o emprego. Outros, perdem a consideração das maiorias» (p. 7). Por mais voltas que se dê, a pontuação das últimas duas frases está errada. E está errada porque não se separa o sujeito do verbo por vírgula, a não ser que haja entre ambos um termo intercalado, que não é o caso destas frases. Por exemplo: Alguns, menos precavidos, perdem o emprego. Outros, desprestigiados por algum motivo, perdem a consideração das maiorias.
O erro, neste caso concreto, decorre da malfadada crença de que onde há uma pausa há uma vírgula. Nada mais errado. Até pode acontecer que onde haja vírgula não haja pausa.

7 comentários:

  1. Desculpe, amigo.Mas no caso das frases citadas a vermelho, não penso que haja vírgulas a mais.FJV apenas quis dar ênfase -como se pode fazer isso, na escrita, sem usar a vírgula ou algo que a substitua?Lidas em voz alta as referidas vírgulas acentuam melhor o que se quer transmitir, julgo - e mais: talvez, falando, o fizéssemos, recorrendo à entoação....Também, e como sabemos, não há regras sem excepção. Eu teria pontuado do mesmo modo.
    Mas concordo que, por vezes, há vírgulas a mais.

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  2. Nem mais. Já tive uma questão destas com não me lembro de quem. Pausa há, não há é lugar para vírgula.

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  3. Esqueci-me:

    Isto sem falar na tal coisa de nos preocuparmos em escrever "bem", como afirmei aqui num outro comentário. Que linda ficava a vírgula no segundo período, sem o verbo a seguir:

    "Alguns, perdem o emprego. Outros, a consideração das maiorias"

    Mas convenhamos que, partindo de quem parte, pode ter sido um lapso de revisão do autor.

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  4. Anónimo14.8.08

    A ideia será a de ênfase e, concordo, a segunda forma verbal está a mais. Mas separa-se muito o sujeito do predicado com vírgula, sobretudo quando o sujeito é mais complexo. (Mau) exemplo:

    Comer muito toucinho, faz mal à saúde.

    Mas, lá está, a vírgula anterior é admissível quando se repete a estrutura da frase e se quer marcar um ritmo na mente do leitor:

    Comer muito toucinho, faz mal à saúde. Devorar bolos, faz engordar. Abusar dos doces, estraga os dentes.

    É necessária a vírgula? Não. A função que cumpre é própria da vírgula? Também não. Podia ser substituída por dois pontos, como disse a amélia.

    pedro

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  5. Anónimo15.8.08

    Então a Amélia e o Pedro pensam que, por uma questão de entoação, se pode escrever "O João, comeu o bolo"?
    Para isso mais valia começarmos a escrever em cima de uma pauta de música. A ênfase, na escrita, dá-se com itálico, negrito, sublinhado, versaletes, etc., e não por sinais de pontuação.

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  6. Ricardo
    Essa tem muita graça. Obrigado.

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  7. Ricardo, a metáfora da pauta de música é extraordinária. Vou tentar lembrar-me dessa nas próximas discussões que tiver acerca do uso da vírgula!

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