9.6.09

Léxico: «sofraldeca»

Vão nus

De desbragamento passei, naturalmente, a bragas, e destas cheguei a sofraldeca, que é aquela que sofralda, que ergue as vestes inferiores por sistema. No fundo, é isto que fazem os jornalistas que, na televisão e na rádio, se tuteiam. Só estranhava que ninguém mais estranhasse. Mas alguém que aprecio veio dizê-lo: «Qualquer jornalismo tem especificidades nacionais. Mas, no caso português, há especificidades que deixam um observador europeu atónito. Uma delas é a que leva os jornalistas do audiovisual a tratarem-se por tu nas emissões. E outra é a que faz que tratem um entrevistado por “você” e muitas vezes pelo seu nome próprio (“o professor Marcelo”), o que o entrevistado faz também amiúde (“a Judite”, “o Ricardo”, “o Nicolau”,…). Intimidades que excluem ouvintes e espectadores do círculo restrito dos intervenientes, traduzem conivências e revelam até um desbragamento nas regras de cortesia» («Mal-entendidos que dão jeito…», J.-M. Nobre-Correia, Diário de Notícias, 6.06.2009, p. 63). Mas leia-se outra opinião, como a de João Paulo Meneses, aqui.

Actualização em 7.08.2009

«Do lado da estação, José Carlos Castro, a par de Pedro Pinto o mais completo pivô do canal, fez as perguntas que se impunham. Mesmo a familiaridade do tratamento por tu, sempre desaconselhada, percebe-se neste caso» («A entrevista de Moniz», Nuno Azinheira, Diário de Notícias, 7.08.2009, p. 57).

2 comentários:

aquelabruxa disse...

na holanda fazem precisamente o mesmo. no reino-unido e noutros países de expressão inglesa nem sequer existe o "você" ou o "senhor", por isso não há essa distinção. acho perfeitamente saudável que as pessoas (neste caso, segundo entendi, colegas de profissão e as pessoas com quem interagem proximamente) se tratem pela forma mais fácil e simples possível. acho que cortesia e etiqueta são duas coisas diferentes.

Anónimo disse...

ontem, na tve, uma jornalista tuteava um cidadão na rua e o cidadão tuteava-a de volta. e depois?