10.3.11

«Crer/querer»

Não quero crer

      No laboratório, de novo. «Os partidos com assento parlamentar criam queriam apresentar soluções pró-populares.» «Muitos alunos», defendeu a professora, «cometem este erro, talvez por serem palavras como que parónimas.» «Como que»? Então não há uma categoria específica em que encaixá-las? São muito mais, a avaliar pelo que vejo, os que consideram este mesmo par, crer/querer, como palavras parónimas do que aqueles que as dizem  homófonas. Eu aprendi que, se a pronúncia não for contrafeita, forçada, antinatural, são palavras homófonas. Não faltam, porém, manuais escolares, como este, que ensinam que são parónimas. Crer e querer têm grafia semelhante? Tem a palavra o leitor.

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19 comentários:

  1. Anónimo10.3.11

    Eu também diria que são homófonas. A semelhança na grafia não é assim tão pronunciada. A pronúncia, essa sim, é muito semelhante.
    RS

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  2. Venâncio10.3.11

    É verdade: «crer» e «querer» são, em Portugal, homófonos. Tal como «crido» e «querido». Mas, logo que entra em cena a mínima formalidade, começa a soar o shwa das segundas formas. É pois, parece-me, uma homofonia algo precária.

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  3. Venâncio10.3.11

    Mas também soam shwas inesperados. Querédo!

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  4. Anónimo10.3.11

    E eu que são parónimos. Talvez um engano meu de alma, ledo e cego...
    Mas traz-me à memória um passo dos comentários do divino Júlio, clássico entre todos — «Facile credimus quod volumus» (cit. de mem.), — que, ao lê-lo, me fez devanear sobre como se poderia tirar em linguagem. De várias maneiras. Uma seria: «Cremos facilmente no que queremos»; ou, ainda mais cerrado, para acentuar a paronomásia (ah!): «Facilmente cremos no que queremos.»
    — Montexto

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  5. Na cantiga "A Casa" de Rodrigo Leão ouvide a Adriana Calcanhotto entoando qu'ria meia à portuguesa:
    ... há tanto tempo que eu qu'ria mudar,
    qu'ria voltar
    .
    Será carioca?
    Cumpts.

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  6. Anónimo10.3.11

    "Ouvide"!!!
    Onde "ouvísteis" tal, senhor?

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  7. Anónimo11.3.11

    Eu não tenho procuração do caro Bic, mas nem sequer é preciso estar muito atento para a ouvir a gente do bom povo, e a ler em autores da craveira de Herculano (folhear Lendas e Narrativas), atribuída a populares. Frequentassem os novíssimos os autores do cânone, e já não se espantariam tanto e tão amiúde...
    — Montexto

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  8. Anónimo11.3.11

    "Ouvide" não é forma "arcaica" para o imperativo da 2ª pessoal do plural do verbo "ouvir", atualmente "ouvi"?
    E é de fato arcaica, ou ainda há por cantos de Portugal quem a empregue naturalmente, na fala?

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  9. Anónimo11.3.11

    Caro Bic, posso dizer-lhe que a pronúncia "qu'ria" aí na música nada tem de carioquês; é antes uma simples necessidade métrica.

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  10. «Ouvide, ouvide!» - bradaram alguns que pareciam maioraes daquella multidão desordenada.
    A. Herculano, Lendas e Narrativas, 13ª ed., T.1, 13ª ed., Aillaud e Bertrand/Francisco Alves, Paris, Lisboa, Rio de Janeiro, 1918, p.60.

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  11. Métrica portuguesa, arrisco. O compositor é português.
    Cumpts.

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  12. Este comentário foi removido pelo autor.

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  13. Vem dous compradores, hum per nome Vicente, e outro Matheus, e diz Matheus a Justina.

    Matheus.
    Vós rosa do amarello,
    Mana, tendes hi queijadas?
    Justina
    Tenho vosso avô marmello;
    Conhecei-lo?
    Mat.
    Aqui estão emborilhadas.
    Jus.
    Estade ma ora quedo,
    Pela vossa negra vida.
    Mat.
    Menina, não hajais medo:
    Vós sois mais engrandecida
    Que Branca de Figueiredo.

    Se trazeis ovos, meus olhos,
    Não m'os vendais a ninguém.
    Jus. Andar em burra e ter bem;
    Ouvide ora ó rasca-piolhos
    (Azeite no micho!) em que vem!
    Vicente
    Minha vida, Leonarda:
    Traz caça para vender?
    Leonarda
    Vossa vida negra e parda
    Não lhe abastará comer
    Da vacca com da mostarda?
    [...]

    Gil Vicente Auto da Feira.

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  14. Anónimo11.3.11

    Ora aí está, caro Bic, ora aí está. Tudo está nos clássicos, senão a inscícia linguística, tão mimosa e mimada dos novíssimos.
    — Montexto

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  15. Muito grato pelas achegas. Cumpts.
    :)

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  16. Ah! Oh!
    Não quero crer... nem quero querer!
    Estais dizendo que "ouvide" é tempo de verbo aceitável, HOJE?!
    Oh! Ah!
    Nem creio que credes no que dizeis!

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  17. Nem "ouvi" é tempo aceitável hoje. "Oição" é que sim.
    Cumpts.

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  18. Será certamente erro meu, mas isto das palavras parónimas não me entra na cachimónia.

    Bem me esforço por compreender a coerência do conceito, mas confesso a minha incapacidade.

    Quem sabe, um dia chego lá.

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