14.10.07

Uma palavra por dia: «zurcir»

Língua inconsútil

«Nadie diría que Godfrey H. Hardy fuera un hombre preocupado por la estética. Un caballero sin abrigo, com la cabeza descubierta y la ropa mal zurcida violaba todos los cánones en el elegante Londres de principios del siglo XX» («La madre de Ramanujan, el dictado de la diosa y el ateo», Jorge Barrero, Público, 13.10.2007, p. 38). «Zurcida»? Vem de surcir*, e este do latim sarcio, sarsi, sartum, sarcire, «remendar», «cerzir»**. Aliás, o nosso «cerzir» tem como étimo este mesmo verbo latino. O vocábulo sastre — uma das mais belas palavras espanholas, que me encanta desde pequeno — também pertence à mesma família, pois vem do latino sartor, «alfaiate». Em português, temos o adjectivo «sartório», que os estudantes de Medicina conhecem bem: é um músculo da coxa, o mais longo do corpo humano, também chamado costureiro. E porquê? Pois porque o costureiro, que trabalha sentado, apoia na coxa o trabalho que está a fazer.

* «1. tr. Coser la rotura de una tela, juntando los pedazos con puntadas o pasos ordenados, de modo que la unión resulte disimulada. 2. tr. Suplir con puntadas muy juntas y entrecruzadas los hilos que faltan en el agujero de un tejido. 3. tr. Unir y juntar sutilmente una cosa con otra. 4. tr. coloq. Combinar varias mentiras para dar apariencia de verdad a lo que se relata» (in Diccionario de la Real Academia).



** Atenção: verbo irregular: muda o e em i nas formas rizotónicas do Presente do Indicativo (cirzo, cirzes, cirze, cerzimos, cerzis, cirzem) e em todo o Presente do Conjuntivo (cirza, cirzas, cirza, cirzamos, cirzais, cirzam), à semelhança de outros, como agredir, progredir, regredir e transgredir.


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