16.12.10

Ortografia

Não é blasfémia


      «Porém, nem só de mar se escreve a história do Bairro Alto. Na Travessa da Água-da-Flor, onde terá vivido um afamado fabricante ou vendedor daquele perfume, teve lugar o episódio que deu origem à palavra “conto-do-vigário”. Terá sido entre os números 24 e 26 que, no século XIX, foi encontrado o padre Manuel Vicente, depois de ter sido embebedado e de ter sido convencido a vender a sua casa por 7500 réis. A história correu os jornais da época, que utilizaram como manchete “o conto-do-vigário”, disse Elisabete Rocha» («Ruas revelam Bairro de marinheiros», Inês Banha, Diário de Notícias, 16.12.2010, p. 21).
      Palavra, sim, segundo os dicionários, mas, já o vimos aqui recentemente em relação a outra, devia ser uma locução: conto do vigário. O pulcro Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não o regista, mas existe o vocábulo vígaro, de génese popular, e com duas acepções: vigarista e vigário. Assim, na história do padre Manuel Vicente, havia um vígaro e um vigário, ou, com equívoco mas propriedade, dois vígaros. Nestas comedelas há sempre um vigarista e um crédulo e ambicioso.

[Post 4196]

2 comentários:

Anónimo disse...

Para quem porventura não saiba, diga-se que Fernando Pessoa tem a sua versão da coisa no conto intitulado precisamente «A Origem do Conto do Vigário».
- Montexto

Anónimo disse...

Quem quiser pode ler o conto em http://espreitador.blogspot.com/2005/10/origem-do-conto-do-vigrio.html