26.1.11

Léxico: «medina»

Desalinhado


      «Leila Trabelsi, antiga cabeleireira, filha de um vendedor de fruta e legumes, tinha crescido num dos mais pobres bairros da medina de Tunes» («Mulher do ex-Presidente liderava “cleptofamília”», Maria João Guimarães, Público, 20.01.2011, p. 9).
      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora em linha lá continua a ignorar que a palavra «medina» existe.

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14 comentários:

  1. Anónimo26.1.11

    Ainda mais de pasmar: o Dicionário de Cândido de Figueiredo, 25.ª ed., ignora «caso»! (Lapso evidente, decerto. Mas calha a todos...)
    - Montexto

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  2. Paulo Araujo26.1.11

    Certamente, fruto do acaso; o Professor não erraria por desatenção. No meu exemplar também não consta, mas aparece numa edição eletrônica, disponível em
    < http://www.gutenberg.org/files/31552/31552-0.txt >

    " *Caso*,
    _m._
    Acontecimento, facto: _os casos do dia_.
    Hypóthese, circunstância: _no caso de se portar bem..._
    Difficuldade.
    Importância.
    Acaso.
    Estima: _faz caso da pobreza_.
    Manifestação individual de uma doença: _houve hoje quatro casos
    de peste_.
    _Gram._
    Desinência de nomes e pronomes, para lhes designar a relação
    syntáctica, em algumas línguas: _o nominativo é caso directo_.
    (Lat. _casus_)", copiado da edição de 1913. Confirmo, portanto, que a culpa não foi do Professor.

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  3. Anónimo26.1.11

    Também o Dicionário Houaiss ignora "medina". Como, aliás, ignora "burca" e outras palavras de uso corrente que percebi ao longo dos anos de consulta, mas agora não me ocorrem de exemplos.

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  4. Anónimo26.1.11

    A minha edição é em papel.
    Mas claro que a culpa não foi do professor - que era reconhecidamente homem de sujeito, verbo e caso: é caso para o dizer, - nem tal me podia passar pelo miolo, salvo que as minhas luzes se tivessem acabado de apagar de todo...
    Mas Cândido de Figueiredo foi professor? Talvez. Eu não sabia...
    - Mont.

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  5. Curiosamente o Dicionário de Cândido de Figueiredo, na versão em boa hora referida por Paulo Araújo, contém "presidenta"!
    ____________
    * *Presidenta*,
    _f. Neol._
    Mulhér, que preside.
    Mulhér de um presidente. Cf. Castilho, _Sabichonas_, 128.
    (Fem. de _presidente_)
    ____________
    Já o "Novo Diccionario da lingua portugueza - o mais exacto e mais completo de todos os diccionarios até hoje publicados", de que tenho um exemplar da 3.ª edição, de 1855, refere que "presidente" é o “homem que preside a camara, congresso, assembléa, junta, academia, acto litterario” – podia lá ser uma mulher, naquele tempo!

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  6. Anónimo26.1.11

    Mário Barreto já referiu esses exemplos no estudo que dedicou ao tema, e que extractei em suma neste blogue quando apareceu a questão.
    - Mont.

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  7. Paulo Araujo26.1.11

    Sim, Cândido de Figueredo foi professor provisório do Liceu Central de Lisboa, entre muitas outras coisas. Como se diz no meu Nordeste, o dicionário dele foi muito bulido e tanto que, além de muitos acréscimos, teve pelo menos este decréscimo (caso).

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  8. Paulo Araujo26.1.11

    Acrescentando: destaquei sua condição de professor pelo respeito que dou a essa profissão, hoje tão pouco valorizada.

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  9. Esqueci de referir que o Novo Diccionario da lingua portugueza citado num comentário feito acima é da autoria de Eduardo Faria.

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  10. Franco e Silva27.1.11

    O volume I da 3.ª edição ("corrigida e copiosamente ampliada") do Novo Diccionário da Língua Portuguesa (Cândido de Figueiredo), editado em Lisboa pela Sociedade Editora Portugal-Brasil Limitada, acabado de imprimir em 25 de Setembro de 1922, lá descreve "ipsis verbis" o mesmo texto do trazido `a colação no cibersítio www.gutenberg.org.

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  11. Franco e Silva27.1.11

    No respectivo cibersítio o Aulete Digital regista:
    MEDINA, « sf.
    1 Ant. Arq. Hist. Parte de uma cidade, ger. habitada por mouros, construída em locais altos, ger. nas proximidades de um castelo; ALMEDINA

    [F.: Red. de almedina, do ár. al-medina.]»

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  12. Anónimo27.1.11

    Tempos houve em que também só havia «senhor», «português», «montês» para designar os dois géneros. E dizia-se: «a minha senhor» (por exemplo nas cantigas de amigo e de amor), «a português linguagem», — e, com referência ao feminino, ainda se pode dizer «a cabra montês»; mas, pela tal tendência, índole e génio da língua português (para usar um arcaísmo), que não descansa e muito se apraz em gerar formas próprias para cada género (em «feminizar» e fazer o que no franciú muito estomagava o tal defunto), já só se diz «a minha senhora», «a linguagem portuguesa».
    A basezinha.
    — Montexto

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  13. Anónimo27.1.11

    Agora que Franco e Silva mencionou a variante "almedina", fui ao Houaiss e verifiquei que lá está. Mas, vejam a incoerência, ao fim da definição, um sinônimo para o qual não há verbete próprio: "s.f. (1094 cf. JM3) ant. a parte de uma cidade (sobretudo marroquina ou habitada por mouros) construída em lugar alto, ger. em torno de um castelo; medina ¤ etim ár. al-medína 'cidade', depois 'a zona nuclear do aglomerado habitacional' "

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  14. Paulo Araujo27.1.11

    É a chamada 'pista perdida', da qual nenhum grande dicionário anterior à digitalização total conseguiu escapar. Curiosa é a datação para almedina; segundo Machado, desde 1094
    no vernáculo.

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