Vem do porco
«“Calaceiro” vem de “calaça” e a palavra, de origem grega, designava muito especificamente as partes da carne do porco que não eram aproveitadas para o consumo. Como se imagina, deviam ser muito poucas, pois que do porco, como bem se sabe, tudo se aproveita, até os pezinhos. De qualquer forma, calaça eram pois estes restos do porco e terá assumido o significado de “preguiça”, “mandriice”, porque os mendigos, ao baterem à porta das casas, pediam por calaça, ou seja, pediam as sobras, os restos quer de carne quer de outros alimentos. E da parte pelo todo, surgiu o termo “calaceiro” como aquele que pede calaça, sinónimo de mandrião, preguiçoso, que não trabalha e vive da mendicidade, à custa dos outros» (Lugares Comuns, Mafalda Lopes da Costa, Antena 1, 6.05.2011).
Lá terá as suas fontes. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não contribui para a elucidação da questão. O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa regista a acepção antiga «foro que consistia numa porção de carne», mas trata-se de óbvia má interpretação do que diz Fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo no seu Elucidário. Para o honesto Morais, calaça era a «costela de porco, ou banda». Quanto a «calaceiro», dá-o como derivado, provavelmente, do espanhol calabacero. «Parece ser a costa, ou banda de um porco» registou Fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo.
[Post 4761]
«Calaça, s. Ant. Pedaço de carne de porco. Etimologia obscura. Séc. XIII: “Dante... et iij. gallinas, et iij. calazas de carne”, “Inq.”, p. 595.// Talvez se possam relacionar com calaça as [sic] vocábulos “calaçaria”, (séc. XVI: “e para gente que não tiver fé nem temer a Deus, é a melhor ‘calaçaria’ do mundo...”, Afonso de Albuquerque, Cartas, p. 84, ed. Clássicos Sá da Costa), “calacear” (séc XVI: “... que o não fizess, porque éramos vadios & vagabundos, que gastavamos a vida em calacear de porta em porta, comendo indevidamente as esmollas que nos davão...», Pereg., cap. 84, vol. III, p. 49), “calaceiro” (séc. XVI: «Mas vejo huns bilhafres calaceiros, sem juyzo pintar Vliseas de hidas, & vindas...”, Auleg., fl. 163)»: José Pedro Machado, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Livros Horizonte, 8.ª ed., 2003, vol. II, p. 28.
ResponderEliminarMas deve sempre começar-se pela Portuguesa e Brasileira, em se podendo.
— Montexto
Não vejo qual possa ser a relação entre «calaceiro» e «calabacero», que em espanhol é quem vende cabaças (abóboras).
ResponderEliminarRS
Caro RS,
ResponderEliminarA relação entre as línguas não é assim tão simplista e imediata.
Sabemos lá nós se não tem que ver com calabaza ser também, em espanhol, a pessoa inepta e muito ignorante e por se considerar que eram assim os que iam de porta em porta pedindo por cabaça.