16.3.06

Locução: obras de arte

Da arte de dizer

Tenho lido alguns artigos em que aflora a estranheza pelo título do programa de Paulo Portas na Sic Notícias, O Estado da Arte. Ontem, também a mim me perguntaram o que significa. Parece ser a tradução do inglês (li um artigo no mesmo sentido no Público) state of the art, locução com que se define o nível mais elevado de desenvolvimento num tempo definido*.
Escrevo, porém, este texto para referir outra ambiguidade: nos últimos dias, tem-se falado muito, novamente, do estado das pontes em Portugal. Pelo menos na SIC, uma notícia aludia às «obras de arte», assim, sem mais. Mesmo no contexto, quem sabe do que se trata? Os jornalistas, já aqui o afirmei uma vez, deliciam-se com estas expressões e com palavras invulgares, quando deviam ser os primeiros a descodificar, a explicar, a traduzir. Este comportamento, contudo, não é regra. Sobre o mesmo assunto, leio uma notícia no Público («Programa de obras em pontes arrasta-se cinco anos depois da tragédia de Entre-os-Rios», Luísa Pinto, 4.3.2006, p. 26) em que se escreve: «Nos três meses seguintes à tragédia foram vistoriadas 354 obras de arte (termo técnico que inclui passagens agrícolas e de peões, bem como viadutos e pontes; em Portugal há 5600) com o objectivo de avaliar as condições de segurança de cada uma delas.» Isto é bom jornalismo.


* Tomemos, por exemplo, a locução «state-of-the-art equipment»: é comum vê-la traduzida, e a meu ver bem, como «equipamento de ponta», ou «equipamento topo de gama». «This is a state-of-the-art» podemos traduzir como «é o último grito», e referimos a área em que isso acontece.