29.6.06

Plural dos apelidos

O nosso nome

Embora já há algum tempo tencionasse escrever sobre este assunto, o facto de um leitor me ter escrito a perguntar a minha opinião obrigou-me a antecipar a publicação deste texto. Ainda recentemente, podia ler-se o seguinte num jornal gratuito: «Nas antigas casas da infanta D. Maria [filha de D. Manuel I] acabaria por surgir um palácio que foi propriedade dos Almeidas, descendentes do vice-rei da Índia, D. Francisco de Almeida», «Campo de Santa Clara» (Appio Sottomayor, Jornal da Região (Lisboa), p. 14). Appio Sottomayor ajuda-nos a descobrir a cidade de Lisboa e a língua, pois os apelidos têm, de facto, plural. Por influência francesa se começou a admitir o contrário, por ignorância se continuou a fazê-lo. Afonso da Maia e Carlos da Maia, recordemos, eram os Maias. Até Eça, que tanta influência recebeu da língua francesa, respeitou a índole da língua portuguesa.
A dificuldade com que se deparam os jornalistas, os tradutores e os revisores — aqueles que têm consciência dessa realidade, que não serão muitos — é justamente a pluralização dos apelidos estrangeiros. A regra, pois, em relação a estes, é a de que se devem pluralizar os nomes próprios e os apelidos das pessoas sempre que a terminação se preste à flexão. Lembro-me de ter lido em Camilo Castelo Branco, por exemplo, «os Monizes». No caso dos apelidos terminados em s, como o meu, é simples: fica invariável. Como já se lia, de resto, no Capítulo XLV da Grammatica da Lingoagem Portuguesa, de Fernão de Oliveira, que defendia que os nomes portugueses têm plural, «tirando Domingos, Marcos e Lucas, que não variam seus números».

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