10.10.06

Livro de Estilo

Revisores e normas

Nem todas as publicações periódicas têm, como deviam, Livro de Estilo. É verdade que nem sempre os leitores sabem que determinada publicação tem este instrumento uniformizador, pois que nem sempre é objecto de edição comercializável, como fazem o Público e a TSF, por exemplo. Recentemente, foi-me pedida a redacção de um destes textos normativos para uma publicação e sei que será apenas um instrumento interno. É bem verdade que se escreve correctamente, e com critérios uniformes, em certas publicações que não têm Livro de Estilo: estão lá os revisores para isso. Contudo, se há mais do que um revisor ou se há rotatividade, o risco de deriva na forma como se grafa, além de outros aspectos gramaticais, pois que um Livro de Estilo tem uma vocação mais abrangente, é real. Ocorreu-me esta reflexão a propósito da seguinte frase do Diário de Notícias: «A barragem de Alqueva é este fim-de-semana a capital nacional do catamaran» («Velas ao vento na barragem de Alqueva», Roberto Dores, 6.10.2006, p. 31). Um Livro de Estilo recomendaria (ah, pois, as mãos dos jornalistas permanecem sempre livres) que se não usasse a grafia inglesa de um vocábulo procedente de outra língua — em especial porque, no caso em apreço, este vocábulo está há muito adaptado à língua portuguesa. A recomendação legitimaria, por sua vez, a emenda que o revisor deveria fazer.
A propósito, «catamarã» vem, já aqui o registei no texto «Asiatismos. Índia e Ceilão», do tâmil e, se está registado no inglês desde 1673, no português é usado desde o século XVI.

3 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns por tantas e tão boas lições!

Pena é que o Livro de Estilo a que se dedica seja apenas para uso interno; os utilizadores da Língua Portuguesa muito lucrariam com se esse seu trabalho fosse publicado.

Isabel M.ª

Helder Guégués disse...

Muito obrigado pela sua visita e pelas suas palavras de apreço.

Anónimo disse...

É só um lamento. É uma pena («no melhor pano cai a nódoa» ...) que o «Livro de Estilo -- Público», 2.ª edição, Março de 2005 apresente como portuguesa a palavra inglesa «Sumatra» (em vez da vernácula SAMATRA), o menos consistente *sócio-económico (em vez da mais consensual SOCIOECONÓMICO) e não use o vernáculo ACHÉM ( para o inglês «Aceh»), conduzindo aos mesmos erros no jornal (ver , no que se refere aos topónimos, o «Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa» F. Rebelo Gonçalves, Coimbra Editora, 1966)