25.11.06

Particípio passado duplo

Cuidado com os temas!

Apesar de considerar que os diversos temas, seis ou sete, tratados em cada emissão não têm muita articulação entre si, no que o telespectador perde, pois retém menos informação, acho que o programa Cuidado com a Língua! cumpre bem com o que deve ser um serviço público. De lamentar é as outras televisões não terem programas semelhantes, de divulgação e defesa da língua portuguesa. O meio, contudo, tem limitações. Pergunto a mim mesmo que utilidade pode ter tratar em televisão um aspecto da língua como o do duplo particípio passado. Não nos esqueçamos que o público-alvo não são os especialistas da língua. O ritmo a que tudo é tratado — e não estou a falar da voz off de Maria Flor Pedroso, que é excelente, bem colocada, que não nos deixa cansados como a de certos colegas seus da rádio, que falam a mata-cavalo — não é o mais adequado para falar da língua. É, ainda assim, de aplaudir, pois põe ao alcance de todos, quase imperceptivelmente, uma solução para dúvidas de sempre que nunca se preocuparam em resolver.
Bem fariam os responsáveis da RTP se mandassem publicar nos principais jornais, semana a semana, a transcrição das várias emissões do programa. Entretanto, deixo aqui a transcrição do tema relativo aos particípios passados duplos.

«Será que se diz morrido ou morto? E, da mesma forma, matado ou morto? Matar e morrer são dois bons exemplos de verbos com duplo particípio passado. Matar, ter, haver matado; ser, estar morto; e morrer, ter, haver morrido; ser, estar morto. A diferença está no verbo auxiliar com que se conjugam. Nós tínhamos matado o cordeiro quando… e não Nós tínhamos morto o cordeiro quando. Foi morto por uma bala e não Foi matado por uma bala. Se não tivesse morrido tão jovem e não Se não tivesse morto tão jovem. Apareceu morto na praia e não Apareceu morrido na praia. Existem muitos outros verbos com duplo particípio passado, ou seja, com um particípio passado regular e um irregular:
Acender: acendido/aceso
Dispersar: dispersado/disperso
Dissolver: dissolvido/dissoluto
Empregar: empregado/empregue
Encarregar: encarregado/encarregue
Ganhar: ganhado/ganho
Imergir: imergido/imerso
Imprimir: imprimido/impresso
Pagar: pagado/pago.»

1 comentário:

Anónimo disse...

A questão do duplo particípio passado é pertinente. Ainda que correcto, existe uma acepção colectiva que leva as pessoas a usar a forma incorrecta. Por
exemplo:

"Eu tinha aceite" é muito usado, mesmo por jornalistas, em vez de "tinha aceitado"

mas...

"Eu tinha pagado..." duvido que alguém tenha coragem de dizer em público...


alexandre.pinela