9.7.07

Dupla negativa

Abrupto, o pensamento

      «Ora não há qualquer prova de que tal existiu, nem o bom senso e o conhecimento da realidade no terreno o revela, até porque, meus amigos!, estamos em Portugal e em Portugal ninguém conspira sem que não se saiba ou se venha a saber, e as conspirações são umas coisas amadoras e adolescentes, mais espertas do que inteligentes, e nunca resultam» («Um problema para as eleições de Lisboa: segurança eleitoral», José Pacheco Pereira, Público, 7.07.2007, p. 45).
      A duplex negatio dos Romanos ainda faz andar a cabeça à roda aos Portugueses. Não, não, desnecessariamente complicado. Tentemos assim: «Ora, não há qualquer prova de que tal existiu, nem o bom senso e o conhecimento da realidade no terreno o revelam, até porque, meus amigos!, estamos em Portugal e em Portugal ninguém conspira que não se saiba ou se venha a saber, e as conspirações são umas coisas amadoras e adolescentes, mais espertas do que inteligentes, e nunca resultam.»

1 comentário:

boloposte disse...

Ora, já que estamos com a mão na massa, permita-me que amasse com mais força:

«estamos em Portugal e em Portugal» – Faz falta uma virgulazinha a seguir ao primeiro Portugal, indicando que a oração (não sei se é assim que se lhe chama) termina ali.

«ninguém conspira que não se saiba ou se venha a saber» – Se tínhamos duas à escolha, porque não escolher a melhor? Não sei se há subjectividade nisto, mas parece-me que a estrutura «ninguém conspira sem que se saiba ou se venha a saber» respeitava mais o trecho original, tirando-lhe o erro sem lhe mudar o estilo. E, já que estamos a tentar salvar o estilo, a sequência «se venha a saber» não é de muito bom gosto (subjectividade minha), podíamos sugerir antes «venha a saber-se».

Concorda?

P. S. – Faço notar que esta minha intervenção é feita com aquele amor e [com aquela] caridade que nos manda o Senhor, os mesmos que me levam a sugerir um par de vírgulas a entalar a condicional «se virem que emendar» na citação (ou "sicação") do frei António Taveira. Venho em paz, portanto, se é que se pode dizer isso de quem se junta ao exército dos que defendem a língua portuguesa.