Quem diria
Dá que pensar a importância que as palavras têm. Quando o imperador Gia Long (1762-1820) optou por denominar o seu país unificado de Nam Viêt, não sabia que o imperador da China não iria permitir tal designação, pois, em sua imperial e celeste opinião, evocava — ó sacrilégio! — o reino chinês do século III a. C. Nam Viêt Dong. Gia Long, que foi decerto um monarca inteligente, resolveu inverter os termos: Viêt-Nam. Oficialmente, agora, Cộng hoà Xã hội Chủ nghĩa Việt Nam.
No campo dos gentílicos, o termo «polaco» é paradigmático do peso cultural dos vocábulos. Tido entre nós, Portugueses, como mais uma mera idiossincrasia brasileira, a variante «polonês» explica-se pelo facto de, no começo do século XX, o proprietário do Cas(s)ino da Urca (onde Carmen Miranda usou pela primeira vez, em 1938, o traje de baiana), no Rio de Janeiro, ter levado prostitutas europeias para trabalhar no seu estabelecimento. Como estas mulheres eram, na sua maioria, loiras como as «polacas» do Sul do Brasil, a população começou a chamar-lhes polacas. «Filho da polaca» passou a ser o mesmo que «filho da puta». Em 1927, o embaixador da França no Brasil terá sugerido ao cônsul-geral da Polónia em Curitiba o uso do termo «polonês» (do francês polonais) para designar o natural da Polónia, evitando assim o pejorativo «polaco».
Dá que pensar a importância que as palavras têm. Quando o imperador Gia Long (1762-1820) optou por denominar o seu país unificado de Nam Viêt, não sabia que o imperador da China não iria permitir tal designação, pois, em sua imperial e celeste opinião, evocava — ó sacrilégio! — o reino chinês do século III a. C. Nam Viêt Dong. Gia Long, que foi decerto um monarca inteligente, resolveu inverter os termos: Viêt-Nam. Oficialmente, agora, Cộng hoà Xã hội Chủ nghĩa Việt Nam.
No campo dos gentílicos, o termo «polaco» é paradigmático do peso cultural dos vocábulos. Tido entre nós, Portugueses, como mais uma mera idiossincrasia brasileira, a variante «polonês» explica-se pelo facto de, no começo do século XX, o proprietário do Cas(s)ino da Urca (onde Carmen Miranda usou pela primeira vez, em 1938, o traje de baiana), no Rio de Janeiro, ter levado prostitutas europeias para trabalhar no seu estabelecimento. Como estas mulheres eram, na sua maioria, loiras como as «polacas» do Sul do Brasil, a população começou a chamar-lhes polacas. «Filho da polaca» passou a ser o mesmo que «filho da puta». Em 1927, o embaixador da França no Brasil terá sugerido ao cônsul-geral da Polónia em Curitiba o uso do termo «polonês» (do francês polonais) para designar o natural da Polónia, evitando assim o pejorativo «polaco».
2 comentários:
Morei muitos anos na Urca, ao lado do Cassino, que foi construído em 1923, para abrigar o Hotel Balneário da Urca. Joaquim Rolla, um empresário nascido em Minas Gerais, passou a comprar as ações do hotel e em 1933 inaugurou o famoso Cassino, que funcionou até 1946, quando o jogo de azar foi proibido no Brasil. Prostitutas estrangeiras, que já estavam no Rio de Janeiro há mais de cem anos, não eram empregadas do Cassino, apenas o freqüentavam, como um local onde corria muito dinheiro. Carmen Miranda foi contratada por Joaquim Rolla, para se apresentar no Cassino; em 1938, sabendo que a rainha dos patins Sonja Heine e outros turistas americanos lá estariam, resolveu incrementar sua fantasia de baiana, com um tabuleiro de frutas, que deixou o público boquiaberto; Sonja, encantada, dirigiu-se ao empresário Lee Schubert, chamando sua atenção para o espetáculo no Cassino, naquela noite, dizendo-lhe que havia algo de maravilhoso, ainda inexplorado; e, assim, Carmen brilhou nos Estados Unidos, acompanhada pelo conjunto musical Bando da Lua.
No Brasil, o gentílico “polaco” é até hoje mencionado, depreciativamente, para designar a Constituição de 1937 (a Constituição polaca), baseada na Constituição polonesa de 1935 e em idéias fascistas e nazistas, promulgada por Getúlio Vargas, que vigorou até 1946.
Obrigado, Roberto Benévolo, pela sua sempre tão culta colaboração.
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