No país dos Belgas
Vale a pena ler a síntese da disputa linguística belga feita pela jornalista Isabel Arriaga e Cunha no Público de hoje: «As disputas linguísticas entre flamengos e francófonos são tão velhas quanto o país. Criado em 1830 depois da independência face aos Países Baixos, o novo Estado não tinha inicialmente uma língua oficial: os belgas, que grosso modo trouxeram consigo o latim do Império romano e as línguas germânicas dos “bárbaros”, falavam então sobretudo uma série de dialectos do francês e do holandês. Na prática, no entanto, o francês funcionava como língua oficial, em grande parte para marcar a distância face aos holandeses e como símbolo da coesão nacional. Era, igualmente, a língua falada pelas elites — incluindo na Flandres — deslumbradas pela cultura francesa, enquanto o flamengo, considerado um dialecto rústico, era falado na cozinha e no campo. A humilhação de que se sentiram vítimas por parte dos francófonos suscitou uma forte reacção dos flamengos e a criação de um movimento que, de defensor da língua, se foi transformando ao longo do tempo em nacionalista. O afastamento das duas comunidades ficou consolidado com a criação, em 1963, de uma fronteira linguística que consagrou o unilinguismo flamengo na Flandres, francófono na Valónia e o bilinguismo de Bruxelas (que conta, no entanto, com 80 por cento de francófonos). Em paralelo com a afirmação da língua, a Flandres passou de uma região sobretudo rural a uma das mais dinâmicas da Europa, pioneira numa série de sectores inovadores e com uma grande capacidade exportadora. Ao invés, a Valónia, em tempos rainha da siderurgia e do carvão, continua à procura de uma especialização que lhe permita travar a decadência provocada pelo fim das grandes indústrias pesadas» («Disputas tão velhas quanto o país», p. 14).
Vale a pena ler a síntese da disputa linguística belga feita pela jornalista Isabel Arriaga e Cunha no Público de hoje: «As disputas linguísticas entre flamengos e francófonos são tão velhas quanto o país. Criado em 1830 depois da independência face aos Países Baixos, o novo Estado não tinha inicialmente uma língua oficial: os belgas, que grosso modo trouxeram consigo o latim do Império romano e as línguas germânicas dos “bárbaros”, falavam então sobretudo uma série de dialectos do francês e do holandês. Na prática, no entanto, o francês funcionava como língua oficial, em grande parte para marcar a distância face aos holandeses e como símbolo da coesão nacional. Era, igualmente, a língua falada pelas elites — incluindo na Flandres — deslumbradas pela cultura francesa, enquanto o flamengo, considerado um dialecto rústico, era falado na cozinha e no campo. A humilhação de que se sentiram vítimas por parte dos francófonos suscitou uma forte reacção dos flamengos e a criação de um movimento que, de defensor da língua, se foi transformando ao longo do tempo em nacionalista. O afastamento das duas comunidades ficou consolidado com a criação, em 1963, de uma fronteira linguística que consagrou o unilinguismo flamengo na Flandres, francófono na Valónia e o bilinguismo de Bruxelas (que conta, no entanto, com 80 por cento de francófonos). Em paralelo com a afirmação da língua, a Flandres passou de uma região sobretudo rural a uma das mais dinâmicas da Europa, pioneira numa série de sectores inovadores e com uma grande capacidade exportadora. Ao invés, a Valónia, em tempos rainha da siderurgia e do carvão, continua à procura de uma especialização que lhe permita travar a decadência provocada pelo fim das grandes indústrias pesadas» («Disputas tão velhas quanto o país», p. 14).
1 comentário:
"independência face aos Países Baixos"
A expressão "face a" está a invadir todos os textos jornalísticos? Não há nada mais original?
É a minha percepção.
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