É o progresso, estúpido!
«Houve igualmente mais jovens a chumbar a esta disciplina (oito por cento) do que a Matemática» («Exame de Português “mais acessível” na 2.ª fase», I. L., Público, 16.07.2008, p. 12). Cá está a «evolução» da língua e a sua força imparável: dantes, o verbo chumbar (como reprovar) era transitivo directo, ou seja, um verbo que pede complemento directo. Se queremos que aquele que sofre a acção seja sujeito, temos de usar a voz passiva: «Houve igualmente mais jovens a serem chumbados a esta disciplina (oito por cento) do que a Matemática.» Recentemente, contudo, alguns dicionários vieram legitimar a construção da frase acima. O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, até a abona com uma frase de Pepetela: «Chumbar Gír. Reprovar num exame. “Os amigos insistiam para ele ao menos terminar o Liceu. Nada feito. Chumbava regularmente no último ano.” (PEPETELA, Geração da Utopia, p. 14).» Potencialmente, qualquer erro pode ser «legitimado» pelos fazedores de dicionários. Parafraseando Churchill, apetece dizer: «O progresso da língua é a capacidade de ir de um falhanço a outro sem perder o entusiasmo.»
«Houve igualmente mais jovens a chumbar a esta disciplina (oito por cento) do que a Matemática» («Exame de Português “mais acessível” na 2.ª fase», I. L., Público, 16.07.2008, p. 12). Cá está a «evolução» da língua e a sua força imparável: dantes, o verbo chumbar (como reprovar) era transitivo directo, ou seja, um verbo que pede complemento directo. Se queremos que aquele que sofre a acção seja sujeito, temos de usar a voz passiva: «Houve igualmente mais jovens a serem chumbados a esta disciplina (oito por cento) do que a Matemática.» Recentemente, contudo, alguns dicionários vieram legitimar a construção da frase acima. O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, até a abona com uma frase de Pepetela: «Chumbar Gír. Reprovar num exame. “Os amigos insistiam para ele ao menos terminar o Liceu. Nada feito. Chumbava regularmente no último ano.” (PEPETELA, Geração da Utopia, p. 14).» Potencialmente, qualquer erro pode ser «legitimado» pelos fazedores de dicionários. Parafraseando Churchill, apetece dizer: «O progresso da língua é a capacidade de ir de um falhanço a outro sem perder o entusiasmo.»
1 comentário:
Não sei se se legitima «qualquer erro», como diz. Seja como for, sempre ouvi «chumbar a» da boca de alunos, pais e professores (frequentei os ensinos básico e secundário entre 1986 e 1998); jamais ouvi «chumbar» com complemento directo (a primeira foi mesmo neste post). Mais do que legitimar, constata-se uma evolução generalizada oorrida ao longo de muito anos. (Lembra-me, de algum modo, a famosa inclusão de «bué» no Dicionário da Academia.) Mas este caso particular não me choca mesmo nada.
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