4.8.08

Pontuação

To my parents, Ayn Rand and God

Se fizerem uma pesquisa no Google à frase que serve de título a este texto, perceberão de imediato do que se trata e a importância que tem. Para os anglo-saxónicos, não para nós. Chamada serial comma ou Oxford comma, esta vírgula, opcional, é usada antes do último termo de uma enumeração precedido da conjunção and (e). No caso do título, não se usar a vírgula antes de and pode, advogam os defensores da Oxford comma, levar o leitor a crer que os pais do autor da frase (uma presumível dedicatória de um livro) são Ayn Rand e Deus. A blasfémia (e exemplo extremo) serve para demonstrar como faz falta ali uma vírgula. O Chicago Manual of Style «strongly recommends this widely practiced usage, blessed by Fowler [Fowler, H. W. A Dictionary of Modern English Usage. 2.ª ed. revista e editada por Sir Ernest Gowers. Oxford: Oxford University Press, 1965] and other authorities, since it prevents ambiguity».
Contudo, os jornais nem sempre a usam, sobretudo nos títulos. Entre nós, contudo, e é isto que importa, o uso desta vírgula é desnecessário e indefensável. (Não, Nuno, o Novo Prontuário Ortográfico, de José Manuel de Castro Pinto, não prevê «o carácter expressivo da famosa Oxford comma». Refere, isso sim, que «não poucas vezes, é a própria linguagem expressiva que leva o escritor a colocar a vírgula antes de conjunções», e nenhum dos exemplos aduzidos por Castro Pinto se encaixa na definição da Oxford comma.)

2 comentários:

N. disse...

Fui consultar novamente o Prontuário em causa, e tem toda a razão; o exemplo em que me fiei não corresponde à Oxford comma. É nisso que resulta uma consulta às três pancadas, entre trabalho e consulta de blogues.

(E ainda bem. É que nem com «carácter expressivo» consigo engolir aquele enxerto.)

Nos últimos tempos, amigos e conhecidos têm-na defendido aguerridamente. Pensei tratar-se de praga que se alastrasse, e que, daqui a uns anos, estivéssemos a baptizá-la de «vírgula de Coimbra» ou coisa que o valha. Folgo em ouvir a sua opinião.

Helder Guégués disse...

Podíamos chamar-lhe vírgula abstrusa.