Vírgulas a mais
Estou cada vez mais convicto de que existem usos arbitrários deste sinal de pontuação, ainda que não o aparentem. Tome-se este excerto da obra Algumas Distracções, de Francisco José Viegas, já aqui citada: «Aliás, uma das coisas que mais me preocupa hoje, em Portugal, é a tendência para que a opinião individual desapareça diante das chamadas “opiniões maioritárias” — é cada vez mais rara a figura do colunista, do cronista ou do cidadão comum que arrisca a sua opinião sem cuidar das consequências e do desprestígio que uma “má opinião” lhe pode trazer. Alguns, perdem o emprego. Outros, perdem a consideração das maiorias» (p. 7). Por mais voltas que se dê, a pontuação das últimas duas frases está errada. E está errada porque não se separa o sujeito do verbo por vírgula, a não ser que haja entre ambos um termo intercalado, que não é o caso destas frases. Por exemplo: Alguns, menos precavidos, perdem o emprego. Outros, desprestigiados por algum motivo, perdem a consideração das maiorias.
O erro, neste caso concreto, decorre da malfadada crença de que onde há uma pausa há uma vírgula. Nada mais errado. Até pode acontecer que onde haja vírgula não haja pausa.
Estou cada vez mais convicto de que existem usos arbitrários deste sinal de pontuação, ainda que não o aparentem. Tome-se este excerto da obra Algumas Distracções, de Francisco José Viegas, já aqui citada: «Aliás, uma das coisas que mais me preocupa hoje, em Portugal, é a tendência para que a opinião individual desapareça diante das chamadas “opiniões maioritárias” — é cada vez mais rara a figura do colunista, do cronista ou do cidadão comum que arrisca a sua opinião sem cuidar das consequências e do desprestígio que uma “má opinião” lhe pode trazer. Alguns, perdem o emprego. Outros, perdem a consideração das maiorias» (p. 7). Por mais voltas que se dê, a pontuação das últimas duas frases está errada. E está errada porque não se separa o sujeito do verbo por vírgula, a não ser que haja entre ambos um termo intercalado, que não é o caso destas frases. Por exemplo: Alguns, menos precavidos, perdem o emprego. Outros, desprestigiados por algum motivo, perdem a consideração das maiorias.
O erro, neste caso concreto, decorre da malfadada crença de que onde há uma pausa há uma vírgula. Nada mais errado. Até pode acontecer que onde haja vírgula não haja pausa.
7 comentários:
Desculpe, amigo.Mas no caso das frases citadas a vermelho, não penso que haja vírgulas a mais.FJV apenas quis dar ênfase -como se pode fazer isso, na escrita, sem usar a vírgula ou algo que a substitua?Lidas em voz alta as referidas vírgulas acentuam melhor o que se quer transmitir, julgo - e mais: talvez, falando, o fizéssemos, recorrendo à entoação....Também, e como sabemos, não há regras sem excepção. Eu teria pontuado do mesmo modo.
Mas concordo que, por vezes, há vírgulas a mais.
Nem mais. Já tive uma questão destas com não me lembro de quem. Pausa há, não há é lugar para vírgula.
Esqueci-me:
Isto sem falar na tal coisa de nos preocuparmos em escrever "bem", como afirmei aqui num outro comentário. Que linda ficava a vírgula no segundo período, sem o verbo a seguir:
"Alguns, perdem o emprego. Outros, a consideração das maiorias"
Mas convenhamos que, partindo de quem parte, pode ter sido um lapso de revisão do autor.
A ideia será a de ênfase e, concordo, a segunda forma verbal está a mais. Mas separa-se muito o sujeito do predicado com vírgula, sobretudo quando o sujeito é mais complexo. (Mau) exemplo:
Comer muito toucinho, faz mal à saúde.
Mas, lá está, a vírgula anterior é admissível quando se repete a estrutura da frase e se quer marcar um ritmo na mente do leitor:
Comer muito toucinho, faz mal à saúde. Devorar bolos, faz engordar. Abusar dos doces, estraga os dentes.
É necessária a vírgula? Não. A função que cumpre é própria da vírgula? Também não. Podia ser substituída por dois pontos, como disse a amélia.
pedro
Então a Amélia e o Pedro pensam que, por uma questão de entoação, se pode escrever "O João, comeu o bolo"?
Para isso mais valia começarmos a escrever em cima de uma pauta de música. A ênfase, na escrita, dá-se com itálico, negrito, sublinhado, versaletes, etc., e não por sinais de pontuação.
Ricardo
Essa tem muita graça. Obrigado.
Ricardo, a metáfora da pauta de música é extraordinária. Vou tentar lembrar-me dessa nas próximas discussões que tiver acerca do uso da vírgula!
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