2.1.09

Abuso do pronome relativo «qual»

Qual qual!


      Não há mesmo nada de novo sob o Sol. «Ultimamente, chegou à Imprensa, para substituir o que, grande reforço de qual. Já repararam? Não há período em que não entre o qual cozido ou frito. Um rapaz, o qual trabalhava na serralharia. A mãe, a qual lhe trouxe o almoço. A namorada, a qual tinha ciúmes» (João de Araújo Correia. A Língua Portuguesa. Lisboa: Editorial Verbo [s/d, mas de 1959], p. 72). Aqui há tempos conheci um militar constrangedoramente ignorante — agora talvez apenas um indivíduo constrangedoramente ignorante, pois já não há empregos para a vida — que em cada frase cometia a proeza de encaixar pelo menos um «do qual». Mais estranho ainda: só por acaso havia concordância em género com o antecedente. Podia dizer: «Esta vida estúpida e vazia que levamos, do qual nos arrependeremos no fim, afasta-nos da leitura.» Não, não, a estrutura era essa, mas mais despropositada, e o conteúdo assemelhava-se mais a isto: «O jogo do Benfica, no sábado, foi o máximo, da qual comemorei com cinco bejecas.»


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