5.1.09

«Por demais»

Consabidamente

Quem é que me disse uma vez que a expressão «por demais» não era português legítimo? E não se referia, creio, à questão de ser «de mais» ou «demais», sobre a qual um dia aqui deixarei abundantíssimas abonações contra o que os gramáticos prescrevem. Bem, não sei. Sei, isso sim, que a encontrei mais de uma vez em Saramago (convenho: eivado de espanholismos) e noutros autores. Em Tomaz de Figueiredo, por exemplo, topo com ela amiúde, e não me causa engulhos nem me confunde a gramática: «Ninguém da casa perguntava quem era esse Ele, por demais o saber, e a prima D. Maria do Socorro, alheia, mexia nas “vistas”» (Uma Noite na Toca do Lobo. Segunda edição. Lisboa: Editorial Verbo, 1964, p. 43). Os gramáticos dizem muitos disparates, e eu de vez em quando esqueço-me disso.

6 comentários:

Lina Santos disse...

"De mais" ou "demais" era mesmo uma questão que gostava que abordasse um dia destes. As dúvidas são muitas. Votos de um bom 2009.

Helder Guégués disse...

Não deixarei de o fazer. Bom 2009 também para si.

Urze disse...

Olá! Dizer "mais pequeno" em vez de "menor" é um espanholismo?

Helder Guégués disse...

Não será ao contrário? São ambos comparativos de «pequeno», e ambos estão correctos. Acontece que usamos maioritariamente a forma «mais pequeno», de génese popular, ao contrário dos Espanhóis, que usam mais o comparativo «menor», que se integra no que a gramática designa comparativos sintéticos (são somente quatro: mejor, peor, mayor, menor), derivados directamente do latim. Nesta língua, havia gradação, com os graus positivo, comparativo e superlativo, com — e isto é que é interessante — significantes diferenciados para cada adjectivo. Em suma, não é espanholismo dizer (e corrijo) «menor» em vez de «mais pequeno».

Urze disse...

Obrigada, caro Helder. Vemo-nos um dia destes num dos seus cursos de revisão!

Helder Guégués disse...

Fico à espera.