3.4.09

Sobre «virar»

Um brasileirismo naturalizado


      Da imprensa, má, assim-assim e boa, às traduções, passando por obras de autores portugueses, o brasileirismo «virar» («tornar-se») veio para ficar. Veio, é verdade, há muito tempo, mas agora está aí em força. Quase todos os dias o vejo. A língua não pára, e não serei eu a pôr-me à sua frente e virar purista morto. Num estudo, datado de 1976, sobre os brasileirismos lexicais em Angola, o autor, o russo Aleksandr Jarushkin, já assinalava o uso de virar nesta acepção. Isto prova duas coisas, pelo menos: primeiro, que os Russos não mandaram apenas aviões Antonov, metralhadoras AK-47 (que, no caso de Moçambique, até está representada na bandeira) e soldados para Angola e, segundo, que a televisão não é a única porta de entrada das influências linguísticas. «Há um antigo centro comercial que virou concorrido templo religioso» (Diário de Notícias, 3.01.2009, p. 5). «História dos Kennedy vai virar minissérie» (Diário de Notícias, 2.04.2009, p. 52). «Cláudia Borges vira assessora» (Destak, 26.2.2008, p. 10). «Soro de leite vira alimento» (Meia Hora, 20.5.2008, p. 2). «Semanário ‘O Eco’ vira mensário gratuito» (Diário de Notícias, 3.04.2009, p. 60). «Professores dizem estar a virar técnicos informáticos» (Diário de Notícias, 15.03.2009, p. 12).

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