16.5.09

Erros jornalísticos

Língua retalhada

Há erros que se devem a lapsos e há erros que resultam inteiramente da ignorância. O que mostro a seguir parece-me ser desta última infeliz espécie: «Mais uma vez, o guia explicava: “Porque as pessoas quando rezam, põem a boca e o nariz no chão. “E” se não encontrar os seus sapatos, leva outros”, adiantava, antes do Presidente retalhar: “Leva os melhores que encontrar!”» («Cavaco Silva descobre regras dos muçulmanos», Bárbara Baldaia, Diário de Notícias, 14.05.2009, p. 12). Aqui, a única pessoa que retalha alguma coisa, a língua, concretamente, é a jornalista. Retalhar é «cortar em retalhos ou pedaços, dividir em várias partes; recortar; lavrar, sulcar; golpear, espatifar; vender a retalhar». Em sentido figurado, também é «magoar ou afligir muito». Atalhar, que é o que Cavaco Silva fez, é «impedir o progresso de; interromper uma pessoa que fala; replicar; embaraçar, estorvar, impedir, obviar; encurtar caminho por atalho; diminuir a intensidade de». Com a Internet, em todos os lados há um dicionário de português. De qualquer modo, em Lisboa, o editor e o revisor não deviam ter deixado passar semelhante parvoíce.

4 comentários:

Anónimo disse...

caro hélder,

o "dn" não tem revisores, não há quem possa ajudar os pobres jornalistas.

posso inclusive adiantar que há pouco tempo, por causa do número de gralhas no jornal, saiu uma circular da direcção do mesmo a informar os jornalistas de como poderiam reduzir os erros: era só escreverem com mais cuidado.

não estou a brincar.

e é mesmo assim: com esta cosmorevisão, está tudo dito.

excelente blogue, o seu, ainda e sempre. abraço,

(desta vez tenho mesmo de ficar anónimo)

Helder Guégués disse...

Um antigo revisor do DN tinha-me dito que o jornal já não tinha revisores. Não me custou acreditar.
Obrigado pelas suas palavras.

Pedro disse...

Faltou ainda separar o artigo definido da preposição: antes de o Presidente "retalhar"

Helder Guégués disse...

Caro Pedro,
Agora dizemos que falta, e já se vê os jornalistas desfazer a contracção, mas o Prof. Vasco Botelho de Amaral, há-de lembrar-se de um texto em que o digo, tinha outra opinião.