24.7.09

Predecessor e antecessor

Seria demasiado bom

      «Desde 1979, recordou o patriarca [ortodoxo de Constantinopla, Bartolomeu I], que os seus predecessores pedem ao Vaticano que tome essa decisão» («Patriarca ortodoxo quer Igreja Católica e protestantes todos juntos na Europa», António Marujo, Público, 22.07.2009, p. 13).
      Predecessores, gostei. É raro os jornalistas usarem esta palavra. Em vez dela, usam, muitas vezes inadequadamente, antecessor(es). Ao indivíduo que ocupou algum posto imediatamente antes de nós damos a designação de antecessor; todos os demais que a este haviam precedido no mesmo posto são nossos predecessores. Sigo quase à letra o que sobre a matéria, e fundamentado na etimologia, diz D. Francisco de S. Luiz na 3.ª edição, de 1838, do Ensaio sobre Alguns Sinónimos da Língua Portuguesa, e recordo-me vagamente de Camilo abordar a questão numa das suas obras. Só que temos um problema: Bartolomeu I exerce as funções de patriarca de Constantinopla desde 1991, e antes dele, entre 1972 e 1991, foi patriarca Demétrio I. Logo, tomando como referência o ano de 1979, Bartolomeu I não teve predecessores, mas um — um — antecessor. Se, em vez de o pedido ter sido feito em 1979, tivesse sido feito em 1929, por exemplo, é que se poderia falar com propriedade de predecessores, pois além do antecessor, Demétrio I (1972–1991), Bartolomeu teria tido, por ordem regressiva, os predecessores Atenágoras (1948–1972), Máximo V (1946–1948), Benjamim I (1936–1946), Fócio II (1929–1935) e Basílio III (1925–1929). Claro que, dependendo do mês em que o pedido tivesse sido feito, era preciso averiguar se este último, Basílio III, também o tinha sido. Percebido? Por sorte, deixámos de usar o vocábulo decessor, ou a trapalhada seria bem maior…