Inimputáveis gramaticais
«Fernando Pessoa é a partir de hoje tesouro nacional por determinação do Ministério da Cultura que publicou ontem em Diário da República o decreto-lei que assim designa o espólio do poeta de ‘Mensagem’» («Fernando Pessoa é tesouro nacional», Dina Gusmão, Correio da Manhã, 15.09.2009, p. 40). Para o Correio da Manhã, há vários Ministérios da Cultura. Uns declaram o espólio de Fernando Pessoa tesouro nacional, os outros sabe Deus o que fazem. Sim, tem razão, caro leitor, o fecho deste texto tem de ser este: será que os revisores entendem? Os jornalistas bem sabemos que não.
«Fernando Pessoa é a partir de hoje tesouro nacional por determinação do Ministério da Cultura que publicou ontem em Diário da República o decreto-lei que assim designa o espólio do poeta de ‘Mensagem’» («Fernando Pessoa é tesouro nacional», Dina Gusmão, Correio da Manhã, 15.09.2009, p. 40). Para o Correio da Manhã, há vários Ministérios da Cultura. Uns declaram o espólio de Fernando Pessoa tesouro nacional, os outros sabe Deus o que fazem. Sim, tem razão, caro leitor, o fecho deste texto tem de ser este: será que os revisores entendem? Os jornalistas bem sabemos que não.
7 comentários:
«Os jornalistas bem sabemos que não». Esta sintaxe é portuguesa? Não me recordo de ter dado com ela.
Em castelhano, sim, diz-se «Los periodistas sabemos que no». Que corresponde ao português «Nós, os jornalistas, sabemos que não».
Pode o Helder esclarecer-me?
O que me parece é que há uma coincidência no modo de dizer, como em tantas outras construções. E sim, também se pode exprimir a ideia como o Venâncio o fez.
Dêmos um passo adiante. O castelhano pode dizer «Es lo que comemos los niños».
Poderá dizer-se em português «É o comemos os miúdos»?
O exemplo será semanticamente provocador. Mas é para sublinhar a sintaxe.
Nunca omitiria o que... Mas adiante. Arranjaria dezenas de construções espanholas que, transpostas para português, não difeririam muito. E o Venâncio sabe disso.
Com a ausência de vírgula antes do "que"fico a saber que há vários MC. :)
Sim, eu queria escrever «É o QUE comemos os miúdos». Pura desatenção.
Depois: há, de facto, toda uma sintaxe portuguesa decalcada na castelhana. Espero um dia expor (e tentar explicar) o fenómeno.
Mas havia, julgava eu, um reduto onde o castelhano não tinha posto o seu pezinho. Era em formações do tipo *«Os filhos vamos amanhã» ou *«Aqui comemos os avós».
[Esta última só é viável em castelhano porque nele se diferenciam «Aquí comemos los abuelos» e (salvo seja) «Aquí comemos a los abuelos».]
Duvido de que tal sintaxe se tenha tornado viável em português. Mas, se sim, tirem-se os asteriscos.
Em «Os jornalistas bem sabemos que não» eu li: «Nós bem sabemos que o jornalista não entendem a falta que faz aquela vírgula)».
Venâncio leu: «Nós, os jornalistas, sabemos que não devia ser aquele o fecho (?)». Equivocou-se.
Helder não viu o equívoco e portanto também se equivocou.
Isto mostra como a tal sintaxe à espanhola nos pode confundir. Parece-me...
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