20.12.09

Religiões e crentes

Vamos ver

      «Os Judeus estavam proibidos de pronunciar o nome de Deus, numa forte chamada de atenção de que qualquer tentativa de exprimir o divino era tão inadequada que era potencialmente blasfema» (Grandes Tradições Religiosas, Karen Armstrong. Tradução de Maria Eduarda Correia e revisão de Pedro Ernesto Ferreira. Lisboa: Temas e Debates, 2009, p. 378). «Servindo de ponte entre dois mundos, estava convencido de que tinha uma missão junto dos goyim, as nações estrangeiras: Jesus fora o messias para os Gentios, tanto quanto para os judeus» (idem, ibidem).
      Incoerência, sem qualquer dúvida, mas como deve ser? Carmo Vaz, no Código de Escrita: Linguística Portuguesa 1 (2.ª edição revista e aumentada. Lisboa: Editora Portuguesa de Livros Técnicos e Científicos, 1983), escreve que se deve usar maiúscula inicial: Judeus, Cristãos, Muçulmanos, etc. Já as religiões, como também se lê em Rebelo Gonçalves, não merecem tal distinção: cristianismo, judaísmo, islamismo, etc. Qual é, contudo, o uso? O mais desvairado. Ainda assim, diria, caricaturando um pouco, que os ateus, os jornalistas, os cronistas e os tradutores preferem grafar com maiúscula inicial, ao passo que os clérigos preferem grafar com minúscula inicial. Uma amostra: «E o senhor Arcebispo, vindo propositadamente para cerimónia de tanto fausto, falava sa fidelidade que os esposos se devem, de como fora o Cristianismo a definir que também as mulheres tinham alma, o que só a filósofos palpitara» (Procissão dos Defuntos, Tomaz de Figueiredo. 2.ª edição. Lisboa: Editorial Verbo, 1967, p. 228). «Por vezes, pensa-se que o género autobiográfico sempre existiu. Mas a primeira obra a, como tal, ser concebida data do século IV, tendo sido escrita por um convertido ao Cristianismo, Santo Agostinho, o qual tão obcecado andava com a salvação da sua alma que teve necessidade de registar o seu percurso» (Bilhete de Identidade, Maria Filomena Mónica. Alêtheia Editores, Lisboa, 4.ª edição, 2006, p. 12). «Existem variadíssimas religiões nas nossas vidas, não apenas as que começam por R maiúsculo como o Zoroastrismo ou o Judaísmo» (Tribos, Seth Godin. Tradução de Rosário Nunes. Lisboa: Lua de Papel, 2008, p. 76). «Afegão convertido ao Cristianismo apontado como exemplo de coragem» («D. José Policarpo critica intolerância», Público, 15.4.2006, p. 19). «Com a guerra que se tem vivido nos últimos anos, também o turismo, o comércio e as peregrinações aos lugares santos do Cristianismo ficaram estrangulados» («Cristãos podem desaparecer da Terra Santa», António Marujo, Público, 28.06.2006, p. 22). «Já nos primeiros séculos do cristianismo, alguns pensadores vincaram certas e perigosas correspondências: assim como Israel é um único povo mediante a fé num único Deus, também a humanidade dividida, agora, em muitas nações e línguas, voltará a ser uma única humanidade sob o império de um único senhor na terra: como existe um único Deus, também deve imperar uma única realeza e uma única monarquia» («Trindade: mística de olhos abertos e mística de olhos fechados», frei Bento Domingues, Público, 7.06.2009, p. 38). «João Paulo II observou que só há choque quando Islão e Cristianismo são manipulados para fins políticos ou religiosos» («Samuel Huntington», José Cutileiro, Expresso, 24.01.2009, p. 39). «Além de deixarem claro que “desaprovam” e “reprovam” a cantora enquanto pessoa, os líderes da Igreja Ortodoxa da Bulgária não poupam críticas à diva da pop: “Madonna mantém uma atitude de desrespeito e intolerância pelos símbolos sagrados da fé cristã e de todo o Cristianismo”» («Madonna também irrita ortodoxos», Dina Gusmão, Correio da Manhã, 26.08.2009, p. 37).


[Post 2922]

Sem comentários: