14.1.10

Léxico: «campanilismo»

O sino da minha aldeia


      «Na verdade, os italianos são muitas vezes descritos como uma sociedade em “pequena escala”. Cada italiano faz questão de habitar mentalmente num tempo e espaço restrito. Há nisso toda uma atitude que alguns definem como campanilismo: quando a identidade cultural, social e política de cada um reside não na nação ou no Estado, mas na mesma igreja e no mesmo quarteirão por onde já transitaram gerações de famílias inteiras» («Os estrangeiros», Pedro Lomba, Público, 14.1.2010, p. 40).
      Os anglo-saxónicos queixam-se de que a palavra campanilismo não tem tradução para inglês, e não conseguem disfarçar. Nós, porém, podemos usá-la como se fosse português. Uma grande vantagem. Desta vez, o cronista esteve à altura da situação: usou a palavra como se fosse português (mas isso é hábito do Público) mas explicou-a. Os dicionários portugueses não registam a palavra, mas quase: falta-lhes o –ismo. Temos o termo campanil, que designa duas coisas: a liga de metais para sinos e o lugar alto para sinos. E é a sinos também — não é em vão que são ambas línguas novilatinas — que se refere a palavra italiana.
      Ainda assim, transcrevo uma explicação que encontrei na revista Penélope («Verflechtung» — Um Método para a Pesquisa, Exposição e Análise de Grupos Dominantes», Pedro de Brito, in Penélope, Fazer e Desfazer História, n.º 9/10, 1993, p. 237). «A comum origem geográfica, ao contrário das outras três categorias, é ignorada pelas ciências sociais. De facto não se trata de um tipo de relação mas, especialmente na Alta Idade Moderna, era causa a que se podia atribuir uma relação e também a base de recrutamento de grupos dominantes. Em instituições nas quais a transmissão hereditária de cargos se não verifica, como por exemplo a Igreja Católica, a comum origem geográfica desempenhava um papel importante. Os italianos inventaram para isso um vocábulo da mesma família de “nepotismo”: “campanilismo”»

[Post 3015]

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