24.2.10

Acertos e erros na televisão

Contesto


      Ontem vi o novo concurso sobre a língua portuguesa que passa na RTP 2. Sabem que nome tem? Preparem-se... Falaescreveacertaganha. No sítio da RTP, o programa é assim apresentado: «É um jogo a pensar nas meninas e nos meninos do 5.º e do 6.º ano e na terceira geração de luso-descendentes. Todos os dias, duas equipas de concorrentes vão responder a perguntas sobre gramática e ortografia, vão escrever textos, soletrar palavras, corrigir erros, ler e interpretar. A brincar também se aprende.»
      Numa das rubricas ou provas, «Português à vez», surgiu esta pergunta: «Na frase “Vamos a votos!” em que tempo e modo está o verbo?» Pedro, da equipa Gonçalinhos, respondeu: «Modo indicativo, presente do indicativo.» E Pedro Castro, o apresentador, disse: «A resposta está correcta.» Não está. A forma verbal usada na frase (que é também o título da obra que serviu para as perguntas, da autoria de José Jorge Letria e publicado pela Texto Editores) está no modo imperativo. Se os dicionários de verbos mais antigos só referiam as formas vai e ide (e Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, escreveram que o «imperativo afirmativo possui formas próprias somente para as segundas pessoas do singular e do plural (sujeito tu e vós). As demais pessoas são expressas pelas formas correspondentes do presente do conjuntivo»), os mais recentes já indicam que as formas do imperativo são vai, vá, vamos, ide, vão.
      E dizia o apresentador, no início, que é «o programa que mima a língua portuguesa»... Embora com uma nota de arrogância, recomendou: «Façam um favor: não hesitem em corrigir, mesmo a mim, se for o caso, que não será.» Não foi o único erro. Na pergunta em que se pedia que os concorrentes passassem uma frase para o discurso indirecto, o concorrente, também dos Gonçalinhos, respondeu incorrectamente e o apresentador considerou-a correcta. Ou seja, pelo menos 20 pontos foram atribuídos indevidamente a esta equipa. O apresentador despediu-se da equipa derrotada com esta frase infeliz: «Mas não fiquem tristes, porque, muito contra a minha vontade, é certo, também vocês vão ganhar o livre acesso à Infopédia

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5 comentários:

Unknown disse...

O espaço "Cyberperguntas" ficaria melhor como "Ciberperguntas". Afinal... o objectivo é a defesa e o uso correcto da língua portuguesa.

Helder Guégués disse...

Isso é, comparado com o que aponto, um pormenor bem menos importante, tanto mais que só está na Internet. Mas, é claro, tem razão. Ainda por cima, o exemplo do Ciberdúvidas é díficil de ignorar.

Anónimo disse...

Infelizmente, na televisão é quase sempre assim: os apresentadores sabem apresentar, apenas, sem domínio da matéria. São "showmen" e nada mais.

Pedro disse...

Não me parece correcto dizer que "vamos" é o imperativo. É sim o presente do conjuntivo, que pode ser usado como forma supletiva do imperativo. Não é assim?

Anónimo disse...

É verdade que as pessoas em geral fazem o imperativo da primeira pessoal plural usando "vamos" + verbo no infinitivo. No entanto, o "vamos" também é o imperativo do verbo "ir" em sua forma pura. É o caso aqui exposto, como é também quando dizemos "Vamos embora" ou "Vamos ao cinema" ou qualquer outra assim.