4.2.10

«Mestrados e doutorados»?

Coincidências


      À tarde, o meu interlocutor, com um crepe de frutos do bosque à frente, contou um episódio sobre Luís Filipe Pereira. À noite, este ex-ministro da Saúde, e agora presidente da EFACEC, era um dos convidados (o outro era Luís Portela, presidente da BIAL) do programa Negócios da Semana, na Sic Notícias. A determinada altura, disse Luís Filipe Pereira: «Nós [na EFACEC] temos também uma percentagem relativamente muito alta de doutorados e de mestrados.» A língua é feita pelos falantes, mas não exageremos na invenção. Se doutorado é, como substantivo, aquele que obteve o grau de doutor, mestrado não é aquele que obteve o grau de mestre. Temos licenciando, mestrando e doutorando, mas não temos licenciado, mestrado e doutorado, antes licenciado, mestre e doutorado. Como não temos licenciar-se, mestrar-se e doutorar-se. Temos o que temos. Temos paciência.

[Post 3094]

4 comentários:

Anónimo disse...

Mas... "não temos" apenas porque não está nos dicionários?

Helder Guégués disse...

Neste caso, julgo que não. Não está nos dicionários porque não é usado pelos falantes. Uma andorinha não faz a Primavera nem um falante faz a língua.

Anónimo disse...

Mas, H.G., não é uma única pessoa. Faltam-me aqui os meios e os recursos para citar outros casos, mas já outras pessoas assim disseram, que eu li e ouvi.
E foste tu mesmo que defendeste a criação do verbo "mestrar-se", em artigo do dia 26.5.09, intitulado "Culpa de Bolonha", que era assim:
"A jornalista afiança que ela fala «num português que domina perfeitamente, com travo algarvio», e nós acreditamos: «Não se queixa, sabe exactamente o que quer: uma licenciatura. “Tenciono mestrar-me, doutorar-me e ser pianista”, afirma [Alena Khmelinskaia, melhor aluna do País, com média de 19,7 valores, em 2007/2008]» («Uma aluna com nota máxima», Ana Cristina Câmara, Tabu, 10.04.2009, p. 17). Se temos os verbos pronominais licenciar-se e doutorar-se, não vejo porque não criar um mestrar-se."

Ora, claro está que a tal "criação" precisa de começar por algum lugar. E daí a termos o particípio é um pulo...

Helder Guégués disse...

Eu sei o que defendi, caro anónimo (conhecemo-nos assim tão intimimamente?). Tem é de saber ler. Fico, contudo, a aguardar que tenha os meios e os recursos para demonstrar o que diz. Posso confiar nisso?