Ainda não temos motivos para celebrar com champanhe e com aplausos, como os físicos do CERN. Vejamos: «Todas as atenções convergem hoje para o CERN, o centro europeu de física nuclear, perto de Genebra, na fronteira franco-suíça, onde pela primeira vez vão ser feitas colisões de partículas a uma velocidade nunca antes atingida: 7 Tev (tera electrões-volt)» («CERN recria hoje o Big Bang», Filomena Naves, Diário de Notícias, 30.3.2010, p. 30). Isto foi anteontem. Ontem, a mesmíssima Filomena Naves já escreveu: «Foi com champanhe e aplausos que físicos e engenheiros saudaram ontem no CERN, centro europeu de investigação nuclear, em Genebra, as primeiras colisões entre protões lançados em direcções contrárias no acelerador LHC a uma velocidade próxima da luz. Passava pouco das 12.00 (em Portugal) quando isso aconteceu, depois de duas tentativas falhadas durante a manhã. Mas com essas primeiras colisões a uma energia de 7 TeV (teraelectrão-volt) nunca antes alcançada “fez-se história” e deu-se “início de uma nova era na física”, como disseram os entusiasmados físicos no CERN» («CERN recria Big Bang e abre nova era na física», Filomena Naves, Diário de Notícias, 31.3.2010, p. 32).
Sem confundir os planos, porque quando estou doente também não vou ao veterinário, fui pesquisar como escrevem num blogue de cientistas, o De Rerum Natura. Um convidado, João Carvalho, do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), publicou lá um texto em que grafou tera electrões-volt. Na imprensa, vê-se das duas formas — por vezes, como sucedeu com o Diário de Notícias, na mesma publicação. Parece-me que a grafia preponderante é, porém, esta última. Só uma pergunta: tera- não é um prefixo? Ora, nunca vi um prefixo a levitar por aí, solto de amarras. Um exemplo com um elemento de formação: «Nos testes efectuados pela TMN, incluindo transmissão de vídeo em alta definição ou acesso ao videoclube Meo, os débitos rondaram os 100 MBps (megabits por segundo)» («Está a chegar a quarta geração dos telemóveis», Pedro Fonseca, Diário de Notícias, 31.3.2010, p. 54). Salvo melhor opinião, só pode grafar-se teraelectrão-volt.
[Post 3295]
2 comentários:
Como sempre, a imprensa generalista demonstra uma falta de cultura científica enorme, sendo o DN bom exemplo disso. Não haverá revisores científicos nestes jornais? Ou pelo menos revisores que tenham estado atentos às aulas de física do ensino secundário? "a uma velocidade nunca antes atingida: 7 Tev". Ora, electrão-volt (eV) não é uma unidade de velocidade, mas de energia! Mais concretamente, é a energia adquirida por um electrão quando é acelerado por uma diferença de potencial de um volt. Acho que não necessário um doutoramento em mecânica quântica para ver logo que não estamos a falar de velocidade. Já agora, a unidade do Sistema Internacional para a velocidade é o metro por segundo (m/s).
Há um erro no texto: MBps corresponde a Megabyte por segundo. Megabit por segundo escreve-se desta forma: Mbps
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