«Apesar da lei em vigor não proibir que um manifestante oculte a sua identidade cobrindo a cara ou a cabeça, a PSP vai deter qualquer pessoa que o faça nos desfiles e manifestações anti-NATO previstas para os próximos dias. Os principais suspeitos têm um nome: anarco-libertários» («PSP vai deter quem se manifestar de cara tapada», Valentina Marcelino, Diário de Notícias, 16.11.2010, p. 8).
Creio que a grafia anarcolibertário seria mais correcta (assim como, naturalmente, anarcossindicalista). É esta grafia, aliás, a do Acordo Ortográfico de 1990. Que diz o meu leitor Franco e Silva?
[Post 4137]
2 comentários:
O hífen é um sinalzinho de cariz pascaliano: o seu emprego segue razões que a razão desconhece. Por exemplo, se se deve grafar «minibig bangs», como no anterior texto deste blogue, descortine-se lá a lógica (ou o «racional», para usar da última aquisição da língua) de se escrever «anti-NATO», como no texto citado.
A mim repugnam-me muito mais casos como esse de se escrever «Apesar da lei em vigor não proibir que...», quando se devia escrever «Apesar de a lei em vigor não proibir que...», por razões de lógia e clareza.
― Montexto
Não achamos que esteja clara (quiçá intencionalmente) esta situação no AO 1945 ou no AO 1990. Naquele, não está coberta pelo uso do hífen da BASE XXVIII e é omissa na BASE XXIX. No futuro AO, também a BASE XV e a BASE XVI a esconde. Recorramos, então, a Rebelo Gonçalves e ao seu «Tratado de Ortografia» publicado pela Atlântida Editora (Coimbra), em 1947 que reza, nas páginas 201, 216 e 217:
«27. ... deve usar-se hífen nos seguintes casos:
...
2) Nos compostos em que entram, morfologicamente individualizados e formando uma aderência de sentidos, um ou mais elementos de natureza adjectiva terminados em "o" ... e uma forma adjectiva:
"afro-árabe, afro-negro",..., "económico-social",..., "físico-químico",..., "latino-eclesiástico, linguístico-literário",..., "médico-legal",..., "político-económico",..., "trágico-marítimo",..., "sério-cómico, sino-japonês", ...»
e ainda nas páginas 250, 251 e 252:
«28. ...
2) É inadmissível o uso do hífen nos compostos em que o elemento de origem substantiva, proveniente do grego ou do latim e terminado em "o", se combina com um ou mais elementos substantivos ou adjectivos. Em tais compostos faz-se sempre a união completa dos elementos iniciais aos imediatos (4). Assim, a) compostos iniciados por elementos de origem grega: "aerodinâmico",..., "astrofísica", "bacteriotoxina",..., "craniocerebral",..., "faringossalpingite",..., "magnetomotriz",..., "traqeobronquite",..., "zigomatolabial"; b( compostos iniciados por elementos de origem latina: "abdominotorácico", "acidobásico", ...,"auriculoventricular",..., "cerebrospinal",..., "dentolabial", "dorsocostal",..., "musculomembraboso",..., "radiodifusão", "radiouvinte", "temporomaxilar", ... , "visicorrectal".»
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(4) União que em muitos casos deixa íntegros os elementos, mas que noutros determina alterações: a) elisão do "o" final de um elemento, antes de vogal ou "h"+vogal (suprimindo-se o "h"); b) duplicação, após o "o" final de um elemento, do "r" inicial do elemento imediato; c) duplicação do "s" inicial de um elemento, quando fica entre vogais.»
Salvo melhor opinião, o busílis está em analisar «anarco-» e classificar a sua origem; se adjectiva, se substantiva; parece ter origem substantiva (do grego «anarquia») e teríamos então
ANARCOSSINDICALISTA,
ANARCOSSINDICALISMO,
ANARCOLIBERTÁRIO
ANARCOECONOMIA
etc. em termos de AO 1945 (e de AO 1990, obviamente), aliás com mesmo critério de SOCIOCULTURAL e SOCIOECONÓMICO.
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NOTA:
Pode-ler-se *anarco-sindicalista, no Grande Dicionário, da Porto Editora e *anarco-sindicalismo no Novo Dicionário, da Lello. Enfim, dicionários ... e a típica infiabilidade. Mas lê-se anarcossindicalismo, anarcossindicalista, nos Vocabulários Ortográficos, da Porto Editora (prof. Malaca Casteleiro) e da Academia Brasileira de Letras (2009), que seguem o AO 1990.
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