18.11.10

Linguagem

Virilidade verbal


      «Quando um cabo da GNR, irritado com o facto de não ter conseguido uma troca na escala de serviço, se dirige ao seu superior, dizendo “não dá pra trocar, então prò c...”, está a cometer um crime de insubordinação ou apenas a desabafar? Este debate percorreu o Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa e o Tribunal de Instrução Criminal, chegando, a 28 de Outubro deste ano, ao Tribunal da Relação de Lisboa, que encerrou o caso: o cabo não deve ser julgado, porque a expressão utilizada é um “sinal de mera virilidade verbal.” […] E para fundamentar tal decisão, os desembargadores fazem uma extensa análise da expressão “prò c...” que, no fundo, era o que estava em causa no autos. Concluíram que há contextos em que a utilização da expressão não é ofensiva, mas sim um modo de verbalizar estados de alma. Um pouco de história: “Para uns a palavra ‘c...’ vem do latim caraculu que significava pequena estaca, enquanto que, para outros, este termo surge utilizado pelos portugueses nos tempos das grandes navegações para, nas artes de marinhagem, designar o topo do mastro principal das naus, ou seja, um pau grande. Certo é que, independentemente da etimologia da palavra, o povo começou a associar a palavra ao órgão sexual masculino, o pénis. Porém, continuam os juízes, “é público e notório, pois tal resulta da experiência comum, que ‘c...’ é palavra usada por alguns (muitos) para expressar, definir, explicar ou enfatizar toda uma gama de sentimentos humanos e diversos estados de ânimo. Por exemplo ‘prò c...’ é usado para representar algo excessivo. Seja grande ou pequeno de mais. Serve para referenciar realidades numéricas indefinidas (‘chove pra c...’; ‘o Cristiano Ronaldo joga pra c...’; ‘moras longe pra c...’; ‘o ácaro é um animal pequeno pra c...’; ‘esse filme é velho pra c...’)”» («Afinal mandar “prò c...” é apenas virilidade verbal», Carlos Rodrigues Lima, Diário de Notícias, 18.11.2010, p. 23).
      A própria expressão «virilidade verbal» é português pra caralho, diria um cabo da GNR.

[Post 4096]

2 comentários:

Venâncio disse...

Leia-se também o que o Eduardo Pitta a este respeito escreve:

daliteratura.blogspot.com/2010/11/caralho-muleta-oratoria.html

Anónimo disse...

Se mandar para o c... é virilidade verbal, mandar para a c... deve ser feminilidade verbal. (Por estas e por outras, nunca a gente se esquece de que Acácio era conselheiro.)
- Montexto