27.12.10

Recursos

Mais uma oportunidade


      Foi o meu primeiro texto de hoje, sobre a inépcia jornalística e a insensibilidade de paginadores que não grafam correctamente CO2. Para acabar o dia ainda sob o mesmo signo, devo referir que 2011 será o Ano Internacional da Química. A partir de Junho, a Sociedade Portuguesa de Química (SPQ) vai disponibilizar no seu sítio todas as revistas científicas editadas desde 1905 através dos Periódicos de Química Portugueses, num total de 24 mil páginas. Com a cultura científica pelas ruas da amargura, decerto que não são apenas os jornalistas que devem conhecer mais em todas as áreas do saber científico, mas todos nós. Eles, contudo, deviam estar na vanguarda.

[Post 4242]

10 comentários:

Jonh disse...

Desculpem esta minha pergunta, neste local, mas cá vai:

"Os saldos chegam hoje às lojas, depois das vendas deste Natal terem ficado um pouco no vermelho" - fonte http://economico.sapo.pt/noticias/saldos-arrancam-hoje-para-salvar-natal-marcado-pela-crise_107503.html

Onde está "das vendas" não deveria estar "de as vendas"?

Anónimo disse...

Devia, John, devia.

Desculpem também esta minha resposta, pelo atraso com que chega: lembram-se do quinau que João de Araújo Correia deu a Camilo Castelo Branco por este escrever «Não viu alguém»? Se não se lembram, revisitem este blogue, dia 28.11.2010, «alguém/ninguém».
A repreensão consta das págs. 187-188 de «Enfermaria do Idioma», Imprensa do Douro, 1971, depois incluída na colectânea «A Língua Portuguesa», Verbo, p. 92 (que afinal também tenho, mas de que já me esquecera).
Pois bem:
O «Dicionário da Língua Portuguesa», da Academia das Ciências de Lisboa, não o último, mas o de 1976, que, como já disse, se ficou por um só volume de 678 págs., consagrado só às palavras iniciadas pela letra «a», coordenado por Jacinto do Prado Coelho e em que participou também Luís Filipe Lindley Cintra, regista o emprego de «alguém» e «algum» em frases desse tipo, aduz abonações de Camilo e não refere que seja erro ou sequer irregularidade, só pouco usado: «alguém: Em frases negativas equivale geralmente a ninguém: “Com as mãos erguidas te rogo que não digas a alguém o meu destino”»; «algum: Em frases de sentido negativo e posposto ao substantivo (ou, menos vezes, substituindo o substantivo) equivale a nenhum: […] “tenho por impossível que forças algumas bastassem para alcançar vitória” (M. Bernardes), “não escolhia nem rejeitava algum” (Camilo, “Doze Casamentos Felizes”, p. 119).
E Vasco Botelho de Amaral já tinha confirmado no seu «Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa», Editora Educação Nacional, 1938, p. 20: «É correcto o seu emprego, em frases negativas, no lugar de “ninguém”. Por exemplo, o nosso Barros, “’Déc.’, I, 337, escreveu: «não podia ir alguém com as mãos vascas”.»
Uma coisa é uma locução ser erro ou até irregularidade; outra, pouco usada. Uma coisa é na língua portuguesa duas negativas não afirmarem, mas negarem – com mais intensidade; outra, serem necessárias duas negativas para negar. Uma vez basta (ao invés da cantiga); mas, com a nossa tendência barroca para chover no molhado, repisar o sabido e encarecer o trivial, propendemos para o pleonasmo, a hipérbole e mais tropos redundantes.
De João de Araújo Correia lembre-se antes esta receita dada na mesma «Enfermaria», p. 221: «Há ignorantes tão atrevidos, que lêem grandes obras com o único fito de surpreender, nos seus autores, algum defeito. Apenas o descobrem, batem palmas, exclamando Camilo errou! Se é Camões o autor, impam de orgulho, porque o cantor de Inês, no verso tal, cincou.
Pobres ignorantes! Em vez de procurarem instruir-se, tentam corrigir quem os poderia ensinar em cada linha e até em cada erro ou suposto erro. Dispõem-se a catar pulgas no corpo de Camilo e de Camões em vez de pedirem, de porta em porta e de mão estendida, a esmola de uns pozinhos para se despiolharem. Cheios de piolhos, saem à caça de pulgas no corpo de Camilo e de Camões.»
- Montexto

Jonh disse...

Obrigado anónimo,

Devia, claro que devia:)

Anónimo disse...

Permitam-me discordar uma vez mais: neste caso, dizer que "devia" é imposição forte demais. Para não repetir o que já bem explicou Cláudio Moreno, no sítio Sua Língua, remeto os caros colegas ao seguinte endereço, pelo que faço dele minhas palavras: http://wp.clicrbs.com.br/sualingua/2009/04/28/a-hora-dade-a-onca-beber-agua/?topo=

Paulo Araujo disse...

Acho que caímos na contrastiva 'devia' X 'deveria'; 'gostava' X 'gostaria', etc.
Concordo com a sugestão do Anônimo anterior.

Anónimo disse...

Contra o emprego de «do» em casos como o de John, em que as boas praxes recomendam «de o», ainda na «Ler», de Setembro de 2010, Francisco Belard manifestou o seu justo desagrado, a que aludi em comento recente. É regra que já devia estar bem assimilado por quem quer que leu meia dúzia de páginas dos autores de boa nota.
Mas já desabafava Cândido de Figueiredo que não há erro que não se possa defender durante cinco minutos. E eu acrescento: nem que não tenha o seu advogado e paladino.
Desde a doença do Romantismo, que teima em não nos deixar convalescer, toda a gente quer inovar e ser criativo e original, enfim, como diz cuido que Saroyan, marcar um golo.

Quanto a «devia« por «deveria»:
Os Senhores Opinantes nunca ouviram falar daquela tendência psicológica, repercutida na gramática e modos e tempos verbais, de se empregar o presente pelo futuro, o imperfeito do indicativo pelo condicional, e em geral o indicativo pelo conjuntivo?
Não?
Bem me parecia. Estudem um pouco mais, e talvez cheguem lá. Há-de haver casos mais desesperados, ainda que eu não os conheça. Até lhes dou uma pista: procurem em Vasco Botelho de Amaral, Manuel Rodrigues Lapa ou Júlio Moreira (o português, notem), e far-se-á luz.
- Montexto

Anónimo disse...

Parece-me que o Montexto não leu o artigo indicado, ou simplesmente lhe falta a capacidade de contra-argumentar de igual para igual, sem recorrer às acusações geréricas de ignorância. O mais irônico é que o ignorante é quem assim se porta. O mundo começou e terminou nos clássicos, nos "autores de boa nota"; e a Linguística nunca existiu, ou para nada serviu. E um Evanildo Bechara decerto nunca leu meia dúzia de páginas de tais autores...

Paulo Araujo disse...

Para quem não quer se dar ao trabalho de ler na URL indicada por um dos Anônimos, aí estão os exemplos do que não ‘devia’ (Portugal) ou não ‘deveria’ (Brasil) ser usado, mas que o são (por insuspeitos doutores da língua), porquanto não há, mesmo em gramática, regras absolutas, sendo, neste caso, mais uma questão de estilo, fora da discussão sobre o mérito de gramáticos X linguistas:
—”São horas da baronesa dar o seu passeio pela chácara” (Machado de Assis)
— “Antes dele avistar o palácio de Porto Alvo” (Camilo Castelo Branco)
— “Sabia-o antes do caso suceder” (Alexandre Herculano)
— “Antes do sol nascer, já era nascido” (Padre Antonio Vieira)
— “Depois do enfermo lhe haver contado” (Manuel Bernardes)
— “Apesar das couves serem uma só das muitas espécies” (Rui Barbosa)

Anónimo disse...

Para um exemplo que podeis encontrar a favor da forma errada, encontrareis vinte na forma certa.
Toda a gente tem o direito inalienável de cincar de vez em quando, inclusive Evanildo Bechara, o que seria o menos, mas até os maiores, como Vieira e Bernardes, Camilo, Machado de Assis e outros de igual tomo, direito minimamente exercitado por eles, valha a verdade, mas de que hoje em dia se abusa.
A coisa é tão corriqueira que me abstenho de prosseguir.
Mas já adverti: uma pessoa diz como as coisas são, depois cada um serve-se daquilo de que gosta, - sendo certo, como já pregava São Paulo, que, se tudo nos é permitido, nem tudo nos convém.
Mas regozijai-vos e aproveitai: ainda não se pagam coimas por estas coisas.
Tenho dito.
- Montexto

Anónimo disse...

Tem dito, mesmo. Ficou-se pelos exemplos e esqueceu-se dos argumentos. Se o colega Jonh lá de cima cá tornar, espero que leia o artigo proposto e tenha a capacidade de pensar por si só. E mais não digo, também.