Uma leitora pergunta-me se se deve dizer «é um assunto a esclarecer» ou «é um assunto para esclarecer». De nenhuma das maneiras — se quisermos ser rigorosos. Lembrei-me que Augusto Moreno tratou da questão nas suas Lições de Linguagem, Vol. 1 (Porto: Editora Educação Nacional, 1937, pp. 140—41). «É afrancesada a sintaxe com a preposição a. Em vernáculo: “É assunto para esclarecer”, ou: “É assunto que deve (ou precisa) ser esclarecido”. Com o verbo precisar, os clássicos também diziam: “É assunto que precisa esclarecido”, sem o verbo ser. — Note a supressão do artigo indefinido um, com que modernamente muito se afrancesam as construções.»
(Augusto Moreno, sabiam?, foi revisor literário na Figueirinhas. Nessa altura, ainda não havia revisores filológicos...)
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6 comentários:
«"É um assunto a esclarecer... é um assunto para esclarecer." De nenhuma das maneiras - se quisermos ser rigorosos... Augusto Moreno: "É afrancesada a sintaxe com a preposição 'a'. Em vernáculo: 'É assunto para esclarecer', ou..."»
Então «é um assunto para esclarecer» é vernáculo ou não?
- Montexto
Vernáculo é com a preposição para — mas sem o artigo indefinido.
Ah, sim, reparei agora: considera o «para» vernáculo nesse caso, em que ainda assim lhe nota o pequeno senão do inútil «um». Cuido que ao emprego desse «um» repetido a torto e a direito o tachavam de suinização da língua.
- Mont.
Exacto. Só vi agora a sua resposta, depois de enviar o anterior.
- Mont.
«Suinização da linguagem», afirmou-o o filólogo e purista brasileiro Melo Carvalho.
A minha referência já não sei de onde vem, mas não desse autor, de que nada li. Talvez de Cândido de Figueiredo, Botelho de Amaral ou Agostinho de Campos...
- Mont.
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