«Há uns anos, em Nova Iorque, pedindo informações num departamento de História sobre os primeiros negros da cidade (foram onze e angolanos, em 1626), eu disse a palavra “slave” (escravo). Ralharam-me: que eu dissesse “enslaved people” (pessoas escravizadas) pois a outra palavra pressupunha que era uma condição aceite pelas vítimas... Não insisti sobre a falta de lógica da explicação, há muito que não invisto contra as pancadas dos politicamente correctos. Agora, leio que Mark Twain vai ser censurado: as 219 vezes que escreve a palavra “nigger” (preto) nas Aventuras de Huckleberry Finn (primeira edição, 1884) vão ser expurgadas» («Pedaços de asno voltam a atacar», Ferreira Fernandes, Diário de Notícias, 7.01.2011, p. 64).
Ferreira Fernandes não ia deixar passar a oportunidade de escrever sobre esta estupidez (mas anda a abusar do gerúndio).
[Post 4293]
11 comentários:
Dois meses passados ocorreu fato semelhante, aqui no Brasil. Um burocrata de plantão no Ministério da Educação houve por bem tentar proibir o uso escolar de obras infantis de Monteiro Lobato, por considerá-las politicamente incorretas com relação à palavra 'negra', referente à personagem Dona Benta. A grita foi maior do que ele esperava e, por isso, acabou desistindo de tamanha estultice.
Dizia o povo, no tempo em que ainda sabia falar, que em casa de enforcado não se fala de corda.
ademias, o fenómeno está explicada pelo grande Nelson (refiro-me ao Rodrigues, não ao Guégués, que também o é) numa ou em várias das suas crónicas, em que testemunha o advento do idiota à opoinião e até ao poder, por assim dizer absoluto.
«Há uns anos, em Nova Iorque, pedindo informações num departamento de História [...], eu disse a palavra "slave".
Aqui a oração de gerúndio não tem funções adjectivas, mas circuntanciais, mais precisamente de tempo, equivalendo a «quando pedi informações», ou «ao pedir informações», e por isso não merece a mínima censura.
- Montexto
Estou com o Montexto mais uma vez. Apenas chamo-lhe a atenção para os erros de digitação, cada vez mais comuns em seus comentos.
«Ademais», não «ademias», óbvio: para o bem ou para o mal, também não sou o Mia Couto, nem o espectro do Guimarães Rosa.
- Mont.
Bem mereço que me chamem a atenção para essa inadvertência... Mas, não sei por quê, não me ajeito escrever neste quadradinho!
- Mont.
«Não sei por quê»? Esta eu não esperava do Montexto. Ou terá sido mais um erro de digitação, por descuido? Espero bem que assim seja; de contrário, parece-me que vem aí mais uma tempestadezinha...
RS (seguindo a sugestão do R.A.)
Ainda não deve ter ocorrido a Montexto que deve escrever primeiro em Word e depois copiar para a caixa de comentários.
Já ocorreu, caro Jorge, e já o fiz várias vezes, mas nem sempre tenho paciência...
Quanto ao «por quê», bem sei que é raro em Portugal, mas frequente no Brasil, e neste particular estou com o Brasil, e escrevo sempre: por que segues a regra brasileira e não a portuguesa? Não sei por que a segues. Eis por que a sigo: porque a considero mais clara e lógica.
- Montexto
Enorme decepção, Montexto.
RS
Lembro-me de uma manifestação nos EUA à porta de um fabricante de disco rígidos, por causa da designação "master - slave" na hierarquia dos discos rígidos de um computador. O ridículo do politicamente correcto em termos raciais nos EUA parece não ter limites. A começar pelo "afro-americano".
Amaricanos? - «In dollar we trust.»
Muito me lembra aquela, salvo erro, de Montherlant: «Acuso os Estados Unidos de viverem em perpétuo pecado contra a Humanidade.»
Eu diria só contra o bom gosto.
- Mont.
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