25.2.11

Como se escreve nos jornais

Atirou mal


      Estão a ver ali o «prime-time» hifenizado no texto de Fernanda Câncio? Muito bem. Agora vejam este excerto de outro artigo: «O presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia foi, de resto, o primeiro dos três convidados a entrar em estúdio. “Já era justo que o Nico tivesse um talk show em prime time na televisão portuguesa”, disse o autarca» («Nicolau Breyner regressa ao ‘prime time’ entre políticos», Ana Filipe Silveira, Diário de Notícias, 25.02.2011, p. 9). E agora leiam o que se recomenda no Livro de Estilo do The Times: «Prime time noun, primetime adjective.» Vai sendo mais necessário saber inglês do que português... Neste último artigo, temos prime time, talk show, stand up comedy, sketches e esta aberração: «Também Nuno Eiró está de regresso, após ano e meio afastado do pequeno ecrã. “Sou o sidekick do programa. Estou no exterior, tenho intervenções em estúdio... É um regresso com muito prazer porque é com o Nico”, atirou» («Nicolau Breyner regressa ao ‘prime time’ entre políticos», Ana Filipe Silveira, Diário de Notícias, 25.02.2011, p. 58).
[Post 4490]

2 comentários:

Anónimo disse...

Pô, "sidekick" é uma boa: dá ares de super-herói ao apresentador.

Anónimo disse...

Super-herói da pelintrice pernóstica...
Aproveitemos a rubrica para dar mais exemplos de como se escreve nos jornais — e revistas:
• «Bem podem estes militantes da barbárie esconderem a verdade. O que se está a passar no Médio Oriente e Norte de África é uma ameaça séria ao modo de vida ocidental» (António Ribeiro Ferreira, Correio da Manhã, 21.II.2011, em linha);
• «Um dos peritos especificou: a dona de casa não pode fumar; a empregada provavelmente pode, e sem arriscar despedimento por justa causa. Comigo a hipótese não se coloca. Nunca despediria a dona Fátima, de quem gosto muito, por fumar» (Alberto Gonçalves, revista Sábado, última. Mas o homem redime-se logo com esta: «Para ser exacto, a coisa começou em Espanha, um país doente a expensas do sr. Zapatero. Já aqui nos tinha constado...).
São os nossos velhos conhecidos infinitivo e «colocar» a inspirar das suas. Gonçalves bem pode ajuntar mais esta ao rol da sua crónica «Dizer asneiras», em linha.
E, já agora, também esta: «É complicado apurar se estes relatos correspondem a um acontecimento social ou a uma experiência psicadélica» (Idem, ibidem, 17.02.2011). Já repararam na frequência com que todo o bicho-careto, desde o arrumador de carros até ao presidente da firma que os fabrica, emprega esta expressão a propósito de tudo e de nada, desde os males da existência, como diria o velho Ant.º Sousa Homem, até à escolha do lado de que deve barrar o pão? É complicado.
— Montexto