Era assim
«John Galliano foi detido pelas autoridades francesas na sequência de um incidente ocorrido no bairro judaico de Marais, situado em Paris. Várias testemunhas presenciaram o momento em que o famoso criador da Casa Dior se dirigiu a um casal, que se encontrava no terraço de um café parisiense, com expressões racistas e anti-semitas» («Dior suspende Galliano por comentários racistas», Márcia Gurgel, Diário de Notícias, 26.02.2011, p. 69).
Não sei quando se passou a designar por «esplanada» o que a jornalista chama «terraço», mas nas primeiras décadas do século XX era esta última a única que se usava. Seja como for, vêm ambas, directa ou indirectamente, do francês, mas «esplanada» não traz nenhuma ambiguidade. A jornalista usou o vocábulo pela mais óbvia das razões: a imprensa de língua inglesa que refere o incidente usou a palavra «terrace». Um mero exemplo, no Guardian: «The flamboyant designer, who is head of the French couture house Dior, was arrested in the Marais district after allegedly verbally accosting a couple sitting on a cafe terrace.» Já temos sorte que não tenha escrito «estilista flamboiã»…
[Post 4492]
7 comentários:
Todavia "criador da casa Dior" também é ambíguo. Eu que não sei nada de moda confundo-o com fundador. Será? Além do mais a moda de chamar "criador" a qualquer alfaiate que hoje em dia desenhe pronto-a-vestir vem donde?... - Noto ainda que é exclusivo masculino (pese embora efeminado). As modistas não soa na novilíngua que criem nada (atenção aqui á discriminação de género, hem!); são "estilistas", o que lhe dá uma certa graça decorativa mas omite subtilmente (ou não) a expressão do génio criador. A linguagem é um grande espelho da realidade, assim saibamos entendê-la.
E no fim de tudo isto sobram ainda os criativos para a publicidade. Coisas da criação...
cumpts.
Também me parece que melhor se referiria essa zona parisiense como o bairro judaico «do» Marais. Em francês, «le Marais», «le nord du Marais». Ah, e força, Bic. É chegar-lhes... a roupa ao pêlo!
— Montexto
The Guardian não se envergonha dos galicismos que atacam a Inglaterra desde a invasão normanda, e nem se preocupa em anglicizar 'couture', 'flamboyant'e 'cafe terrace'; pronto-a-vestir não seria o francesíssimo 'prêt-à-porter"? ou o anglicismo 'ready-to-wear'? Estrangeirismos à parte, se o jornalista tivesse escrito 'esplanada' eu ficaria pensando que o terraço do café tem as dimensões do Bois de Boulogne; coisas da nossa variante.
Os bifes e camones que façam e se arranjem lá como quiserem ou puderem, que nós por cá faremos ou tentaremos fazer como quisermos ou pudermos.
— Mont.
O prezado Araújo bem pode converter-se ao Guardian. Talvez consiga um "upgrade" à variante.
Cumpts.
Não trocaria minha língua e a de meus antepassados (todos) por nenhuma outra, mormente o inglês, a mais deturpada das germânicas e, por isso, a de menos identidade. Quis apenas mostrar como é difícil não absorver empréstimos, adaptando-os ou não à nossa língua. Quanto a esplanada, basta ver a acepção 3 do Houaiss, a vossa, e a acepção 1, a nossa. E The Guardian não me daria emprego; meu inglês é macarrônico (vocábulo da língua portuguesa desde 1593).
Muito bem, caro Paulo. Até porque «Inglaterra é o menos culto dos países da Europa. Os Africanos não foram os únicos a ficar no estádio do arco e flechas, há tantos outros, aqui, que têm um elevado nível de vida e que deixaram amolecer o espírito. A burguesia inglesa macaqueia os papéis que eram outrora os seus. Exprime a sua alma pela cor das suas paredes. Prega imagens horrorosas nas paredes, a trouxe-mouxe, de qualquer maneira».
Não, não sou eu que o digo, se bem que pareça. É Vidiadhar Surajprasad Naipaul, prémio Nobel da Literatura de 2001, em entrevista a Charles Michener, na Newsweek, aos 16 de Novembro de 1981, e que deve saber bem do que fala, pois reside entre os bifes há seis décadas, e é mui dilecto da rainha deles, que o fez «sir».
— Montexto
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