30.4.11

«Seco/secado»

Não valia a pena

      Falava-se de uma semente, e depois dizia-se isto: «É salgada e secada ao sol.» Quatro cabeças, duas sentenças, com a maioria a afirmar que a frase citada está correcta. Que deva ser «salgada» não há dúvida, pois é verbo com um só particípio. Já o verbo «secar» tem dois particípios, secado e seco. Ora, como com os auxiliares ter e haver se utiliza a forma regular (em –ado ou –ido), e com os verbos ser e estar se usa, regra geral, a forma irregular, mais curta, correcto seria «seca», por se subentender ali a forma verbal «é»: «É salgada e [é] seca ao sol.» No dicionário de Morais lê-se, em abono desta interpretação: «Carvão, s. m. Matéria disposta para se acender, e conservar o fogo, ou sejam pedaços de madeira queimada, e apagada; ou a que se tira de minas sulfúreas, dita carvão de pedra; ou de uma espécie de terra pingue feita em talhadinhas, ou tijolinhos, e seca ao sol, a que os estrangeiros chamam turba, os Castelhanos; tourbe os Franceses.»
      A forma «secada» há-de estar ali por atracção: como o outro particípio tem a forma (única, como já vimos) regular, «salgada», este assume-a.


[Post 4734]

2 comentários:

Anónimo disse...

Pode ser. Mas na lição dos clássicos, nisto parece-me que coincidente com a prática antiga do bom povo, facilmente se verificará uma tendência oposta a de hoje, a saber: usavam às vezes o particípio regular (mais comprido) quando, por essa regra — que é a boa e deve ser seguida, — se esperaria o irregular (mais curto); e agora tende a usar-se o irregular quando seria de esperar o regular, como já mais de uma vez aqui lembrei.
— Montexto

Anónimo disse...

«"Vão haver consequências muito graves se votarmos no Governo atual. Votar no Governo actual, quando a mim é votar na bancarrota, é votar para os nossos filhos emigrarem, é votar para ter a maior taxa de desemprego dos últimos 90 anos, votar neste Governo é votar na irresponsabilidades e certamente votar na bancarrota do país", afirmou o economista durante a sua apresentação no evento final do movimento "Mais Sociedade".
Álvaro Santos Pereira, economista da universidade canadiana Simon Frasier, explicou durante a sua apresentação no evento que as políticas "nos últimos quinze anos, agravaram os problemas da economia nacional" e que Portugal apresenta hoje "os piores indicares económicas desde 1892, quando Portugal entrou em bancarrota"», lê-se no «Jornal de Negócios» em linha.

Com que, «vão haver consequências...»! - Bem pior que a troca dos particípios. Pelo visto, sempre se pode pensar bem e escrever ou falar mal. Alguém tenha dó, e recomende-lhe que repasse os verbos.
Eis por que incluí e incluo a universidade no rol das instâncias que à compita com «a vida parlamentar, a administração e o jornalismo têm sido, em toda a parte, os mais poderosos corruptores da língua e do bom gosto», no dizer abalizado do senador Rui Barbosa («Réplica às defesas de redacção do projecto de Código Civil Brasileiro»), bastas vezes aqui citado.
- Mont.