É brasileirismo?
«Mais grave foi a cena de ciúmes no Boujis em finais de Março de 2007. Kate detestava ver o príncipe no papel de ‘rabo de saia’ e, nessa noite, a reacção foi sair porta fora depois de se fartar de olhar para um ‘Crackbaby’, o seu cocktail preferido. As fotografias da humilhação motivaram queixa dela à Press Complaints Comission [PCC]. Durante três meses não se terão encontrado, mas o amor acabou por vencer» («Ciúmes: Príncipe abandonado duas vezes», João Vaz, Correio da Manhã, 20.04.2011, p. 26).
A acreditar no que registam os dicionários que consultei, que dão rabo-de-saia como sinónimo de mulher, habitualmente jovem, o senhor redactor principal teria errado. O príncipe William no papel de mulher... Posso estar enganado, mas é a única acepção usada em Portugal. Se consultarmos a Enciclopédia Brasileira Mérito (São Paulo: Editora Mérito, 1967, p. 464), vemos que «rabo-de-saia» tem essa acepção e a que foi usada no texto acima: «indivíduo que vive perto de mulheres». As aspas são tontice que só na cobardia do revisor encontram explicação.
«Tinha, porém, umas bugigangas curiosas, esporões de galo, pés de galinha secos, medalhas, pólvora e até um chicote feito de rabo-de-raia, que eu li rabo-de-saia, coisa que me espantou, porque estava, estou e morrerei na crença de que rabo-de-saia é simples metáfora. Vi depois que era rabo-de-raia» (Diálogos e Reflexões de Um Relojoeiro, Machado de Assis. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1966, p. 298).
[Post 4713]
8 comentários:
Ora aqui temos mais uma acha para a velha fogueira: «morrerei na crença DE QUE rabo-de-saia é simples metáfora»; e portanto «a prova DE QUE» se deve escrever o DE, «a certeza DE QUE» se escreve bem não calando o DE, o «aviso DE QUE», a «advertência DE QUE», a «crença DE QUE», a «informação DE QUE», etc., etc. Mas não me admirava nada DE QUE na página seguinte aparecesse logo um exemplo sem DE.
— Montexto
Já se decidiu pelo nome do príncepe Guilherme, então...?!
Cumpts.
Príncipe, antes que me corrija...
Cumpts.
Millor Fernandes escreveu um dia a seguinte quadrinha (com ilustração para cada verso):
"Guiava um rabo de peixe,
Passou um rabo de saia,
Olhou com o rabo do olho,
Levou um rabo de arraia."
Nota: uso a nova ortografia.
De que serve? O meu caro continua a escrever fato e eu facto.
Cumpts. :)
4.4 - Casos de dupla grafia [base IV, 1.º, c) e d), e 2.º]
Sendo a pronúncia um dos critérios em que assenta a ortografia da língua portuguesa, é inevitável que se aceitem grafias duplas naqueles casos em que existem divergências de articulação quanto às referidas consoantes c e p e ainda em outros casos de menor significado. Toma-se, porém, praticamente impossível enunciar uma regra clara e abrangente dos casos em que há oscilação entre o emudecimento e a prolação daquelas consoantes, já que todas as sequências consonânticas enunciadas, qualquer que seja a vogal precedente, admitem as duas alternativas: cacto e cato, caracteres e carateres, dicção e dição, facto e fato, sector e setor; ceptro e cetro; concepção e conceção, recepção e receção; assumpção e assunção, peremptório e perentório, sumptuoso e suntuoso; etc.
Poupe-me, ó anónimo acordita!
E escrevem isto com toda a seriedade, e há quem acredite, e ainda os cite!
- Mont.
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