Se o sábio Gonçalves Viana escreveu nas Apostilas aos Dicionários Portugueses (II, 511) que o acento não deve recair no i porque é vogal epentética, temos de nos calar. Ou talvez não. Vejamos. Não é nada de decisivo, mas, se vejo muitas vezes escrito com acento, não me lembro de alguma vez a ter ouvido ser pronunciada como esdrúxula. (Primeira ilação: dou-me com as pessoas erradas.) Cheguei a esta reflexão porque estava aqui a ver que o tradutor verteu Flat Place por País das Túlipas. E cá está, esdrúxula, dactílica ou proparoxítona no venerando Morais. Que achais?
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22 comentários:
Oiço túlipa, de sempre. Tenho família na Holanda. Por outro lado não me lembro de nunca ver escrito com acento.
Cumpts.
Eu ouço e digo tulipa desde sempre. Mas aí deve grassar, embora não grossa e grosseira, grande e já velha indefinição que torna ambas as formas justificadas. Já vi o caso tocado, mas não me lembra onde, e cuido que se aceitavam as duas acentuações.
Costumo ir a uma pequena pizaria (um «z» chega-lhe bem) de vez em quando, e o moço pergunta-me sempre se para beber quero um fino ou uma tulipa (= um copo com esta forma).
— Montexto
P.S. — Admiro e venero muito o velho Morais, que vou consultando, mas nisto de pronúncias Gonçalves Viana parece-me autoridade culminante.
— Mont.
Mas pelo visto neste caso estão ambos de acordo, ainda por cima. Donde não será muito temerário reputar originária a forma em que ambos concordam...
— Montexto
Há em São Paulo uma cidade chamada Holambra (de Holanda +América +Brasil), fundada por imigrantes holandeses, após a II Guerra Mundial, dedicados em sua maioria à produção de flores, principalmente tulipas. Em contato com um floricultor holandês, por telefone, disse-me ele que em holandês a palavra é proparoxítona, mas no Brasil diz-se tulipa. Pode ser a razão pela qual os portugueses na Holanda chamam túlipa.
Cândido de Figueiredo, além da definição, emite comentário.
Cumpts.
Eu cá só digo, escrevo, escuto e leio "tulipa" paroxítona.
O Diccionario Contemporaneo da Lingua Portugueza, Lisboa, Imprensa Nacional, 1881, dirigido por Antonio Lopes dos Santos Valente após o fallecimento do distincto professor F. J. Caldas Aulete, dá
Tulipa (tu-li-pa), s.f. genero das plantas da familia das lilaceas onde se distingue a planta que dá a flor d'este nome (tulipa gesneriana). || F. pers. Dulbend, turbante.
Na Figuração da pronuncia diz: As syllabas tonicas são representadas em caracteres italicos. - Esdrúxula, portanto. - E explica:
Na determinação dos accentos tonicos, sempre que pudémos, tomámos por base a etymologia, mórmente se o vocabulo se filiava na lingua horaciana.
Quando o habitualismo formalmente se oppunha, seguimos o uso: assim aconselhâmos orgía e não órgia como pede a etymologia; ídolo e não idólo, como se accentuára na prosodia latina.
De fato, o Caldas Aulete 1881 dá como /túlipa/; tinha lido antes de postar meu comentário, mas não percebi a tônica. Convoquemos Leite de Vasconcellos.
Bluteau grafa e diz que, "Por falta de palavra propria latina dizemos Tulipa", o que não esclarece nossa pendenga. Vossa Academia dá as duas formas, no verbete do seu dicionário.
Soma-se o Dicionário Prático Ilustrado Lello & Irmão, Porto, 1976
TULIPA ou TÚLIPA, s.f. (turco tulbend turbante), &c.
... que na legenda da imagem à margem opta por tulipa.
Vale das duas maneiras e pronto.
«Voilà.»
- Mont.
Mas, considerando o parecer de Gonçalves Viana, coincidente com o de Morais, não me resta dúvida atendível de que a forma ortodoxa é «túlipa», por aquilo da vogal epentética; e portanto vou passar a dizer e escrever «túlipa». Ortodoxia é comigo.
— Montexto
Roma locuta, causa finita.
E o parecer de Gonçalves Viana está no verbete original do Aulete Digital; que obviamente registra como verbete atualizado.
Correção:
" ... que obviamente registra também o termo como 'verbete atualizado', sob grafia paroxítona."
Pelo que percebo, esses dicionários todos aqui trazidos à baila dão somente a etimologia turca. O Houaiss também, mas afirma ter vindo por intermédio do francês "tulipe" (e este com influência holandesa). Provavelmente por causa desse "tulipe" é que a pronunciemos como paroxítona.
Sim, e também porque a língua portuguesa tende para a acentuação grave, tendência aqui favorecida pela indecisão de que adoece este caso.
— Montexto
Sim, sim. O que eu fiquei de concluir, mas esqueci, é talvez não devêssemos considerar esse "i" epentético, já que nos chegou pelo francês, e que talvez por isso não fosse caso de pronunciá-la como esdrúxula. Senão teríamos sempre de buscar a forma original de tudo, de volta aos primórdios dos grunhidos.
Admita-se que nos não chegaram as túlipas da Holanda e as tulipas da França em tempos e a lugares difrenetes. E disso uns virem com umas e outros com outras. Nada mais natural e que é só um passao atrás, nada de recuar às cavernas.
Cumpts.
Admita-se que nos chegaram as túlipas da Holanda e as tulipas da França em tempos e a lugares diferentes. E disso uns virem com umas e outros com outras. Nada mais natural e que é só um passo atrás a duas origens próximas díspares; nada de recuar às cavernas.
Cumpts.
[Comentário revisto]
Não exageremos. Que tem que ver a tulipa e a túlipa com as cavernas? Esta mocidade... Sirva-se cada um do que gosta. Hoje em dia já assim se faz em questões bem mais definidas e estritas, quanto mais nesta! Ad libitum. Eu, cá por mim, doravante, se comprar, só túlipas.
— Montexto
É isso que digo um passo atrás para firmar as coisas. Nada de cavernas.
Túlipas também para mim.
Cumpts.
Agora fiquei cheia de dúvidas...
Eu escrevo Tulipa mas digo Túlipa. Contradições, como tudo o resto na minha vida ; )
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