Só para poetas
«[…] e os jornalistas, em vez de discutirem como é que, quais são as medidas no sistema de justiça, como é que vão reforçar o poder dos directores da escola, como é que vão reforçar o ensino técnico-profissional, que é, vai ser uma revolução no programa, etc., em vez de andarem a discutir as grandes questões que podem mudar Portugal, andam a discutir — passo a expressão — pintelhos» (Eduardo Catroga, Negócios da Semana, Sic Notícias, 11.05.2011).
Anda mal citado por aí — foi mesmo «pintelhos» que o coordenador do programa eleitoral do PSD disse. Grande admiração, reticências. Deviam pensar que só poetas e romancistas podiam usar a palavra: Jorge de Sena, Casimiro de Brito, Augusto Abelaira. «Desço a mão, cuidadosamente, quase um a um, afasto-lhe com os dedos os pintelhos até encontrar a abertura do sexo» (Sem Tecto entre Ruínas, Augusto Abelaira. Lisboa: Livraria Bertrand, 1979, p. 65).
É verdade que a variante mais comum é «pentelho», e mesmo a única registada nos dicionários, mas não é por isso que se deve citar mal. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, que regista «cona» e «caralho», por exemplo, esqueceu-se de pentelho/pintelho.
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2 comentários:
Mais um sinal dos tempos. Se algo tem tendência a desaparecer, é perfeitamente natural que o(s) vocábulo(s) que representa(m) esse algo também desapareça(m). Quem não se lembra da capa da Playboy brasileira quando fez 31 anos?
http://www.flickr.com/photos/sikelianos/210355271
O dicionário Houaiss só regista "pentelho" e nem mesmo este dicionário regista umas das acepções mais usadas para o termo: coisa pequena, sem importância.
No entanto, dizem que, além de pêlo púbico, é também "maçada" ou "pessoa enfadonha". Sinceramente, não me lembro de ter ouvido o termo "pentelho" a ser usado com este significado, embora muitas vezes o oiça com o significado de algo muito pequeno. "Foi por um pentelho" é relativamente comum, mas nenhum dicionário o regista.
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