3.5.11

Plural dos etnónimos

Perdeu, perdemos

      «Estudo na cama, estudo na lama», costumava dizer o Prof. Ruy de Albuquerque (com i grego, sim senhor). Mas Proust, enfermiço em busca da melhor posição, trabalhava sempre na cama, num quarto à prova de som. Ontem à noite, pus-me a estudar algumas questões na Moderna Gramática Portuguesa, de Bechara (37.ª ed. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2002), que já aqui citei hoje numa caixa de comentários. Ora vejam isto: «Por convenção internacional de etnólogos, está há anos acertado que, em trabalhos científicos, os etnônimos que não sejam de origem vernácula ou nos quais não haja elementos vernáculos não são alterados na forma plural, sendo a flexão indicada pelo artigo plural: os tupi, os nambiquara, os caiuá, os tapirapé, os bântu, os somali, etc.» (p. 129). Reparem: «Em trabalhos científicos», não no Público ou no Correio da Manhã. Na conferência em que se deliberou nesse sentido, o representante do Brasil ainda ponderou «que todos os escritores luso-brasileiros, inclusive um clássico da excelsitude de Vieira, sempre adoptaram a forma do plural nos nomes de tribos ou grupos indígenas, ad instar das demais coletividades humanas», mas ficou assim.


[Post 4741]

15 comentários:

Bic Laranja disse...

O que é um trabalho científico?
Cumpts.

Anónimo disse...

Eu já acrescentei a academia ao rol das instâncias que segundo Rui Barbosa têm contribuído em toda a parte para a corrupção da língua e do bom gosto. Quando dizia academia, devia entender-se também ciência, e, se não se entendia, entenda-se.
— Montexto

R.A. disse...

má-língua
s. f.
1. Maledicência.
2. Vício de dizer mal de pessoas ou coisas.
s. 2 gén.
3. Pessoa maldizente.

a que se poderia acrescentar:

Tendência a evitar num blogue sobre boa língua...

Jonh disse...

Sei que não se enquadra na conteúdo do post, mas aqui vai:

Está é uma das dúvidas que tenho há muito tempo; tenho sempre muita dificuldade em discernir quando é que devo utilizar o pretérito imperfeito ou o condicional.

Exemplo: Devíamos/deveríamos tomar as medidas necessárias.

Na minha opinião, “deveríamos” é a forma correcta, mas fico sempre na dúvida. Por favor, alguém que me elucide neste matéria. Quando é que se utiliza um e o outro tempo verbal?

Anónimo disse...

Este, R.A., coitadinho, anda-me aqui a rosnar, a rosnar, que eu nem lhe entendo patavina. Desembuche e alivie-se, homem ou lá o que for, que tamanha obstipação é capaz de o empeçonhar ainda mais.
- Montexto

Anónimo disse...

«Dear» John, se ninguém o elucidar, permita-me uma dica: vá lendo os clássicos, ou então, para abreviar e ir direito «al grano», basta Camilo, que em coisas de linguagem os compendia, e até aprofunda, a todos. Não lhe faltarão exemplos do presente empregado (e não: «empregue», novíssimos) pelo futuro, o indicativo pelo conjuntivo, o imperfeito pelo condicional, etc.
- Mont.

Jonh disse...

"Dear" Montexto, muito obrigado pelas suas sugestões de leitura, mas pode mesmo ir direto (já com o noco acordo ortográfico) ao assunto? Como é que faço para não confundir?

Muito obrigado pela disponibilidade em responder a alguém que, à vossa beira, pouco percebe da língua portuguesa...

Bic Laranja disse...

@ Montexto
Aquilo da má língua era rosnar? Pensei que fosse língua presa com abortografia. Ou ressaca dum cursozeco de optimismo no âmbito das novas oportunidades.
Deus nos dê paciência!

Venâncio disse...

Caro R.A.,

O caro Montexto sofre de um reflexo (todos nós sofremos de alguma coisa), e esse reflexo leva-o a nunca, mas nunca, estar inteiramente contente com alguma coisa. Trata-se de um reflexo muito cultural, diria mesmo muito chique, que tem tradições excelentes no nosso meio. Por mal dos meus pecados, estudei um pouco a coisa no nosso círculo letrado do século XIX. Pode crer que tenho contínuos «déjà vus» quando o leio, a ele, e começo sinceramente a crer no eterno retorno. Em alternativa, na imobilidade da cultura.

Segundo se supõe, o caro Montexto é um senhor ainda na fase ascendente da vida. Isto, em si motivo de júbilo, dá a medida do transtorno. Ele mais parece, diabos me mordam, um velho caturra, que faz do rosnar um refrigério para a dura existência que nós, os devassos, e alguns - também é verdade - piores que nós, destinamos à doce língua portuguesa.

Tenha dó dele. Mas continue e lê-lo atentamente. Para melhor compreensão do mundo, ele não é nada de desperdiçar.

Venâncio disse...

P.S.

Encaixei «diabos o levem» com «macacos me mordam». Desta vez, mordam os diabos.

Anónimo disse...

Faltava-me mais este, caro BIC, também em ressaca, mas agora de estudo ou estudozeco no âmbito das velhas oportunidades, de modo que já tinha idade para ter juízo. Mas é bem verdade: ninguém pode saltar fora da sua sombra.
— Montexto

Venâncio disse...

O «estudozeco» deu-me o grau de doutor numa universidade com cinco séculos de celebridade. Verdade seja que a minha vocação era «entertainer», numa eterna «stand up comedy». Enfim, vou salvando o que consigo.

Anónimo disse...

Ânimo! Até nem tem conseguido pouco. A gente sempre se vai refocilando com essa «eterna "stand up comedy"». Não que faltem por aí, mas descambam mais para a tragicomédia, se não para a farsa. Mas há lugar para todos.
- Mont.

Anónimo disse...

"Miscelânea" (ou "Anda Tudo Ligado")

Há dias ofereceram à minha filha o livro “m*erdas que o meu pai diz”, de Justin Halpern (Pergaminho, 2011). Apesar de se tratar de literatura ligeira, algumas boas críticas que li motivaram-me a pegar no livro para lhe dar uma vista de olhos. Esbarrei logo na capa com «mal-humurado» e já não consegui abrir o livro, pelo que vou ter de optar pelo original, em inglês. Pedi apenas à minha filha que me dissesse quem tinha sido o tradutor (Raquel Dutra Lopes), e quem o revisor (inexistente). Pergunto: as editoras não deviam (ou deveriam, tanto faz, caro Jonh) ser obrigadas a contratar um revisor? E multadas, caso não o fizessem? (Ó FMI, cá está uma boa fonte de receitas.)
Já agora, o livro deu origem a uma série de televisão (“$h*! My Dad Says”), e algumas cenas podem ser vistas no YouTube (ir, por exemplo, a http://www.youtube.com/watch?v=Gbgnca4Z2pg). A série promete… Está lá o William Shatner (o da série “O Caminho das Estrelas”), num registo próximo do do Denny Crane da série “Boston Legal”. Quem gostou deste último, certamente vai adorar…
Finalmente, e não sei porquê (ou talvez saiba), as discussões entre pai e filho na série “$h*! My Dad Says” fizeram-me lembrar alguns episódios da série “Assim Mesmo” entre Montexto e R.A. Vou continuar a ver, até porque, segundo parece, os figurantes vão começar agora a participar mais na trama…

Fernando Ferreira

Anónimo disse...

A «trama» parece que está aberta a mais «figurantes», sem absoluta necessidade de se tramarem, mas logo se vê (ou verá ou há-de ver, «dear» Jonh: «as you like it», neste caso. Generosa, a língua portuguesa).
- Mont.