«Por isso, quando o seu carro me apareceu à frente, ainda antes do Cais do Sodré, foi-me fácil alimentar o crescimento de uma irritação no espírito. Desacelerar atrás de si, fez-me prestar atenção súbita à realidade concreta daquele fim de tarde: o trânsito, as apitadelas, o céu escuro, a quase noite» («Carta à senhora que ultrapassei pela direita na semana passada, na zona de Santa Apolónia», José Luís Peixoto, Visão, 13.01.2011, p. 12).
Não pode haver, julgo, duas interpretações sobre isto: «Desacelerar atrás de si», que, em si, é uma oração, é o sujeito de «fez-me» — e nunca se separa o sujeito do verbo e este dos seus objectos com uma vírgula, quando a oração se apresentar na ordem directa. Um escritor até pode distrair-se ou julgar ter uma licença especial para desrespeitar a gramática, mas os revisores não podem ter essas veleidades nem distrair-se muito.
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