20.9.07

Infinitivo flexionado

Equívocos benignos


No dia 6 de Fevereiro deste ano, publiquei aqui um texto sobre o se apassivante. Já este mês, um leitor deixou-me lá um comentário, não sobre a matéria em si, mas avisando-me, «sem referências gramaticais e com simpatia», de que uma frase minha estava incorrecta. Escrevera eu: «São poucos os estudiosos em Portugal a afirmarem que é indiferente.» Que não, admoestou o leitor. «A forma verbal deveria ser ou “afirmando” ou “a afirmar” ou “que afirmam”.» Agradeci a simpatia e supus que o negrito assinalava as preferências do leitor. Consultei a Academia Brasileira de Letras sobre a questão. A resposta, que encaminhei para o leitor e publiquei, foi a seguinte: «O emprego do infinitivo, flexionado ou não, depende da situação estilística. Havendo interesse em realçar o sujeito, flexiona-se. No caso, parece conveniente destacar o sujeito “os estudiosos”.» Aliás, eu sabia que, tirando certas particularidades do infinitivo flexionado, que julgo conhecer bem, o seu uso é, como se diz em Direito, insindicável.
Agora o gerúndio «afirmando». Não havendo, claramente, na frase uma expressão de actividade («Um homem lutando com uma fera, era o espectáculo dos Césares no anfiteatro de Roma», frase dos Sermões do padre António Vieira que o Prof. Botelho de Amaral cita, por exemplo), a construção proposta pelo leitor é francesa e logo ilegítima. Como escreveu o Prof. Vasco Botelho de Amaral sobre esta mesma matéria («Sintaxe estrangeirada do gerúndio», in Glossário Crítico de Dificuldades do Idioma Português, Editorial Domingos Barreira, Porto, 1947, pp. 500-506), «aliás, a gente tem cabeça em Portugal para pensar com cabeça portuguesa».

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