A propósito
Num livro, depara-se-me o nome Vercingetórix, e logo me lembro de ter lido em Vasco Botelho de Amaral alguma nota sobre ele. Cá está: «Lembrarei agora um caso de interesse para o português, este de tonicidade latino-gaulesa.
Quando a gente do meu tempo aprendia História, dizia Vercingetorix, Vercingetorĭgis. Mas que grande silabada a gente dava, sem querer, ao proferir assim o nome do grande chefe dos Gauleses contra César!
Ernout e Meillet e Walde e outros sábios ensinam, a quem os consultar, que o elemento -rīx, rīgis* de tal nome é de proveniência gaulesa, correspondendo ao latim rēx, rēgis (rei) e o ī é longo. Vercingetorīx, Vercingetorīgis.
Portanto, a nossa melhor pronúncia, tirada canonicamente do acusativo latino, será Vercingetorige, e não Vercingetórix (aliás, bem tirada do nominativo).
Enfim, lá tinha suas razões o grande Camilo, quando dizia, num dos seus momentos de azedume, — a boa da História é uma trapalhona, sem se importar com a célebre afirmação — História, mestra da Vida» (Vasco Botelho de Amaral, Glossário Crítico de Dificuldades do Idioma Português, Editorial Domingos Barreira, Porto, 1947, p. 534).
* Acrescento meu: A presença deste sufixo — que tem ligações com o gótico reiks, «chefe», e com os nomes próprios germânicos em -rik (e esta mutação consonântica de g para k temo-la na passagem do latino Caesar para o gótico kaisar, que o alemão manteve em Kaiser), por exemplo, Teodorico — na antroponímia e teonímia gaulesa é esmagadora: Adgennorix, Aduorix, Ainorix, Bellorix, Biorix, Cingetorix, Comartiorix, Dagorix, Docirix, Elvorix, Epadextorix, Fabiarix, Gaesorix, Gargorix, Iovigcorix, Iverix, Lugurix, Magiorix, Orgetorix, Roxtanorix, Samorix, Solirx, Tancorix, Tontorix, Ulidorix, Vindiorix... Poucos eram reis, é claro.
Num livro, depara-se-me o nome Vercingetórix, e logo me lembro de ter lido em Vasco Botelho de Amaral alguma nota sobre ele. Cá está: «Lembrarei agora um caso de interesse para o português, este de tonicidade latino-gaulesa.
Quando a gente do meu tempo aprendia História, dizia Vercingetorix, Vercingetorĭgis. Mas que grande silabada a gente dava, sem querer, ao proferir assim o nome do grande chefe dos Gauleses contra César!
Ernout e Meillet e Walde e outros sábios ensinam, a quem os consultar, que o elemento -rīx, rīgis* de tal nome é de proveniência gaulesa, correspondendo ao latim rēx, rēgis (rei) e o ī é longo. Vercingetorīx, Vercingetorīgis.
Portanto, a nossa melhor pronúncia, tirada canonicamente do acusativo latino, será Vercingetorige, e não Vercingetórix (aliás, bem tirada do nominativo).
Enfim, lá tinha suas razões o grande Camilo, quando dizia, num dos seus momentos de azedume, — a boa da História é uma trapalhona, sem se importar com a célebre afirmação — História, mestra da Vida» (Vasco Botelho de Amaral, Glossário Crítico de Dificuldades do Idioma Português, Editorial Domingos Barreira, Porto, 1947, p. 534).
* Acrescento meu: A presença deste sufixo — que tem ligações com o gótico reiks, «chefe», e com os nomes próprios germânicos em -rik (e esta mutação consonântica de g para k temo-la na passagem do latino Caesar para o gótico kaisar, que o alemão manteve em Kaiser), por exemplo, Teodorico — na antroponímia e teonímia gaulesa é esmagadora: Adgennorix, Aduorix, Ainorix, Bellorix, Biorix, Cingetorix, Comartiorix, Dagorix, Docirix, Elvorix, Epadextorix, Fabiarix, Gaesorix, Gargorix, Iovigcorix, Iverix, Lugurix, Magiorix, Orgetorix, Roxtanorix, Samorix, Solirx, Tancorix, Tontorix, Ulidorix, Vindiorix... Poucos eram reis, é claro.
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