Para a outra vez
Num texto datado de 21 de Maio do ano passado, publiquei aqui um texto em que, mais uma vez, chamava a atenção para o uso do verbo haver. Calhou ter sido Jerónimo de Sousa a dizer o disparate: «E se dúvidas houvessem […].» A 30 de Setembro deste ano, um leitor, Pedro Abreu, não ficou, e tem direito a isso, convencido: «Escrevo para pedir que esclareça o erro. Eu não o encontro.» Via-se, e disse-lho numa mensagem de correio electrónico que lhe enviei, que não seria certamente meu leitor, pois eu já tinha referido várias (seis?) vezes o erro. Digo-lhe agora que, antes de me ter deixado o comentário, deveria ter consultado uma gramática. Para consolo deste leitor, devo dizer-lhe que também Camilo escorregou.
«Verbo impessoal pluralizado. A respeito da tendência para a pluralização do verbo impessoal haver, escrevi no Dicionário de Dificuldades:“Haver. Este verbo pode empregar-se como auxiliar e com o significado de ter. Neste caso conjuga-se em todas as pessoas: haviam dito, isto é, tinham dito, houveram por bem determinar, etc. Todavia, como verbo principal, a significar existir, é impessoal, quer dizer, só se usa correctamente na terceira pessoa do singular, ainda que o nome seguinte esteja no plural. Posto que o escritor Camilo Castelo Branco haja empregado o verbo erroneamente (‘haviam lágrimas’, etc.), não se deve seguir semelhante prática… “Houveram homens”, etc., em vez de “houve homens”, etc. Evidentemente, semelhante solecismo deve por todos ser combatido… Note-se igualmente que vão também para o singular os verbos que antecedem haver, tais como deixar, dever, começar, poder: deixa de haver festas, e não deixam de haver festas; deve haver boas-vontades, e não devem haver; começa a haver descontentes, mas não começam a haver descontentes; pode haver excepções, e não podem haver excepções”» (Vasco Botelho de Amaral, Glossário Crítico de Dificuldades do Idioma Português, Editorial Domingos Barreira, Porto, 1947, p. 574).
Num texto datado de 21 de Maio do ano passado, publiquei aqui um texto em que, mais uma vez, chamava a atenção para o uso do verbo haver. Calhou ter sido Jerónimo de Sousa a dizer o disparate: «E se dúvidas houvessem […].» A 30 de Setembro deste ano, um leitor, Pedro Abreu, não ficou, e tem direito a isso, convencido: «Escrevo para pedir que esclareça o erro. Eu não o encontro.» Via-se, e disse-lho numa mensagem de correio electrónico que lhe enviei, que não seria certamente meu leitor, pois eu já tinha referido várias (seis?) vezes o erro. Digo-lhe agora que, antes de me ter deixado o comentário, deveria ter consultado uma gramática. Para consolo deste leitor, devo dizer-lhe que também Camilo escorregou.
«Verbo impessoal pluralizado. A respeito da tendência para a pluralização do verbo impessoal haver, escrevi no Dicionário de Dificuldades:“Haver. Este verbo pode empregar-se como auxiliar e com o significado de ter. Neste caso conjuga-se em todas as pessoas: haviam dito, isto é, tinham dito, houveram por bem determinar, etc. Todavia, como verbo principal, a significar existir, é impessoal, quer dizer, só se usa correctamente na terceira pessoa do singular, ainda que o nome seguinte esteja no plural. Posto que o escritor Camilo Castelo Branco haja empregado o verbo erroneamente (‘haviam lágrimas’, etc.), não se deve seguir semelhante prática… “Houveram homens”, etc., em vez de “houve homens”, etc. Evidentemente, semelhante solecismo deve por todos ser combatido… Note-se igualmente que vão também para o singular os verbos que antecedem haver, tais como deixar, dever, começar, poder: deixa de haver festas, e não deixam de haver festas; deve haver boas-vontades, e não devem haver; começa a haver descontentes, mas não começam a haver descontentes; pode haver excepções, e não podem haver excepções”» (Vasco Botelho de Amaral, Glossário Crítico de Dificuldades do Idioma Português, Editorial Domingos Barreira, Porto, 1947, p. 574).
1 comentário:
A regra tem uma explicação etimológica, como de forma bem-humorada esclarece o Professor Custódio Magueijo no artigo "«Houveram pessoas... Mas já não hão!»", publicado no número 25 da revista CLASSICA (http://revistaclassica.googlepages.com/numero25).
Aproveito ainda para lhe dizer, Helder, que me lembrei de si ao ouvir o discurso de António Costa no dia 5 de Outubro. O presidente da câmara dizia, a propósito do estado das escolas de Lisboa, "tratam-se de escolas...". Mais um que não é seu leitor, lembrei-me.
Cordiais cumprimentos!
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