18.5.08

Pontuação

Nem meio mas

Para um trabalho que estou a fazer, tenho estado a ler vinte obras infanto-juvenis. Muita coisa me surpreende, e desde logo o desleixo com que são escritas, traduzidas e revistas. É, contudo, uma surpresa relativa, pois sabia, temia, que não fossem mais bem revistas, traduzidas ou escritas que todas as outras obras. Numa que estou a ler agora, Henrique, o Terrível, de Francesca Simon (tradução e adaptação de Rómina Laranjeira, publicada pela Gailivro, Vila Nova de Gaia, 2.ª edição, 2007), o uso da pontuação em orações em que está presente a conjunção coordenativa adversativa mas é completamente errada. O erro parece dever-se, em parte, à ideia ainda persistente de que a vírgula corresponde a uma pausa. Dez exemplos:
  1. «Mas, Henrique, o Terrível, pensou: “E se eu fosse perfeito? Como seria?”» (p. 10).
  2. «— Mas, eu estou sentado correctamente — respondeu o Henrique» (p. 18).
  3. «O pé do Henrique queria acertar no Pedro. Mas, lembrou-se que devia ser perfeito e continuou a comer» (p. 20).
  4. «Mas, o Henrique baixou a cabeça» (p. 23).
  5. «Mas, o Henrique não obedeceu» (p. 25).
  6. «— Mas, já fui para lá umas catorze vezes — lamentou-se o Pedro. — Por favor, posso ser o Capitão Gancho?» (p. 50).
  7. «Mas, o pai não parou…» (p. 77).
  8. «— É um bocadinho distante… — disse o Pedro. — Mas, não me estou a queixar… — acrescentou, de imediato» (p. 81).
  9. «Mas, os chuviscos transformaram-se em aguaceiros e começou a soprar um vento mesmo forte» (p. 88).
  10. «— Mas, está a chover torrencialmente — constatou o Henrique» (p. 90).


2 comentários:

n.fonseca disse...

Nem mas nem meio mas: essa é de cabo de esquadra! :)
Parabéns pelo blog.

Berna Valada disse...

Perturbador e deprimente.