7.1.11

«Ave/pássaro»

Aves raras


      «Algo semelhante estará na origem do sucedido no Arcansas e na Luisiana. […] A hipótese de envenenamento ou doença contagiosa está excluída no caso do Arcansas» («Milhares de pássaros caem do céu na Suécia e nos EUA», Abel Coelho de Morais, Diário de Notícias, 6.01.2011, p. 24).
      Cá estão dois topónimos aportuguesados. Não é complicado nem ridículo: faz-se quando se pode. (Em relação a Luisiana, porém, os jornalistas ainda não acertaram no género.) Não vamos, contudo, tratar de topónimos, mas do título da notícia. Na rádio, ouvi que se tratava de aves. Não é raro o falante médio confundir «ave» com «pássaro». Os jornalistas, porém, não são, por definição, falantes médios, mas também confundem. Os pássaros são aves pequenas. Ou seja, se todos os pássaros são aves, nem todas as aves são pássaros. Ave é o hiperónimo (o termo genérico) e pássaro é o hipónimo (o termo específico).

[Post 4287]

6 comentários:

Anónimo disse...

Talvez a velha metonímia possa explicar a coisa algum tanto: o continente pelo conteúdo, o autor pela obra, o indivíduo pela espécie, esta pelo género, etc., etc.
Cuido que o próprio Ortega y Gasset, estilista de primeira apanha e que, a meu ver, só por si vale toda uma literatura, no seu maravilhoso ensaio sobre a caça emprega «pássaros» por aves em geral.
- Montexto

Anónimo disse...

O jornalista José Vinha foi criticado, numa entrada anterior, por causa do excesso de vírgulas. Vejamos, aqui, a frase «Os jornalistas, porém, não são, por definição, falantes médios, mas também confundem». Escrevendo «Embora, por definição, os jornalistas não sejam falantes médios, também confundem» conseguia-se poupar duas vírgulas e uma palavra. Não teria sido melhor?

Anónimo disse...

A frase em causa
. tanto podia ser pontuada qual foi, e bem, como podia
. ter só as vírgulas antes e depois de «porém» e de «por definição»,
. ter só as vírgulas antes e depois de «porém»,
. ter só as vírgulas antes e depois de «por definição»,
. ter sós as vírgulas antes e depois de «porém» e antes de «mas»,
. ter só as vírgulas antes e depois de «por definição» e antes de «mas»,
. ter só a vírgula antes de «mas»,
. enfim, não ter nenhuma vírgula.

Ah, e se fosse João de Araújo Correia o seu autor, a oração arriscava-se a apanhar com uma vírgula antes e com outra depois de «mas»...

Sirvam-se como lhes aprouver.

- Montexto

Anónimo disse...

Que ave, afinal, caiu do céu? Sem que se saiba isso, é difícil condenar o uso de "pássaro" nesse caso. E, como bem apontou o Montexto, talvez se possa explicar o uso pela metonímia.

Anónimo disse...

Parece que foram tordos-sargentos (ou pássaros-pretos-da-asa-vermelha). São pássaros de pequeno porte. Portanto, o uso de pássaro está correcto. tal como o de ave, uma vez que, como se diz no 'post', todos os pássaros são aves...

Helder Guégués disse...

No Diário de Notícias, a imagem que ilustra a notícia mostra claramente uma ave, talvez maior do que um pombo, nas mãos de um homem. Se também tiverem caído pássaros, tudo são aves.