8.2.06

O elemento compositivo não-

Questões não-essenciais?

Nunca me ocupei aqui da questão do uso do hífen depois do elemento não (não-beligerante, não-cumprimento, etc.). Contudo, como o meu interlocutor privilegiado neste blogue me chama a atenção para o facto de ter sido tratada no Ciberdúvidas, referi-la-ei hoje. Começo por concordar que o mais inteligente é a resposta — ou parte dela, para ser mais rigoroso — que é dada. Creio que o realce deve ir para o trecho em que se afirma que «o usuário é árbitro para se fixar em a não valorização ou a não-valorização, o lexicógrafo, porém, não se sentirá compelido a dar tratamento de verbete autónomo a cada ocorrência desse tipo». Carta branca, pois, para o falante? Talvez. Ainda é cedo, dirão os lexicógrafos, para dicionarizar todas estas formas. Pelo meu lado, o que sei é que algumas editoras portuguesas dão instruções precisas para que se evite o uso do hífen nestes casos, o que, tendo em conta a língua de partida da maioria das traduções, me parece no mínimo avisado. O que se segue é citado — vou pensar se devo pedir desculpa por me citar a mim próprio — de uma obra minha, inédita, Manual de Normas de Edição e Revisão:
«Com efeito, em inglês, é habitual o uso do hífen nestes casos. Apesar de mais restrita, a regra do francês é semelhante à inglesa: «On met un trait d’union entre les préfixes non et quasi et le nom ou l’infinitif qui suit, ex.: La non-ingérence, le non-paiement d’une dette, une fin de non-recevoir, la quasi-totalité. On ne met pas de trait d’union entre les préfixes non ou quasi et l’adjectif qui suit, ex.: – Une somme non payée, une date non prévue, un travail quasi parfait (1).» Entre nós, contudo, há opiniões contrárias bem formuladas, como a de Miguel Magalhães, da Direcção-Geral de Tradução da Comissão Europeia, que num texto da publicação A folha (boletim da língua portuguesa nas instituições europeias), n.º 16, Primavera de 2004, apresenta a questão de forma muito clara, concluindo que em muitos casos se trata mais de uma questão estilística do que gramatical (como também faz o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa).»
A língua, sabemos, é um organismo vivo, que evolui, se transforma, adopta novas soluções, se mostra permeável às línguas com as quais está em contacto e é feita pelos seus falantes. Pessoalmente, apenas não me agrada o uso abusivo que em certos textos é dada a esta solução, quando o contexto permitiria soluções muito mais de harmonia com as idiossincrasias da nossa língua.

1 comentário:

Pedro Bingre do Amaral disse...

Que opina da regra ortográfica que obriga ao uso de hífen em todos os nomes compostos de espécies biológicas, mesmo quando essa hifenização resulta semanticamente redundante? Se é compreensível para nomes compostos de dois substantivos justapostos (peixe-aranha, hortelã-pimenta), resulta absurda em pares de substantivo e adjectivo ou semelhante (falcão-peregrino, pinheiro-negro, carvalho-cerquinho, cipreste-de-lawson)…