Questões não-essenciais?
Nunca me ocupei aqui da questão do uso do hífen depois do elemento não (não-beligerante, não-cumprimento, etc.). Contudo, como o meu interlocutor privilegiado neste blogue me chama a atenção para o facto de ter sido tratada no Ciberdúvidas, referi-la-ei hoje. Começo por concordar que o mais inteligente é a resposta — ou parte dela, para ser mais rigoroso — que é dada. Creio que o realce deve ir para o trecho em que se afirma que «o usuário é árbitro para se fixar em a não valorização ou a não-valorização, o lexicógrafo, porém, não se sentirá compelido a dar tratamento de verbete autónomo a cada ocorrência desse tipo». Carta branca, pois, para o falante? Talvez. Ainda é cedo, dirão os lexicógrafos, para dicionarizar todas estas formas. Pelo meu lado, o que sei é que algumas editoras portuguesas dão instruções precisas para que se evite o uso do hífen nestes casos, o que, tendo em conta a língua de partida da maioria das traduções, me parece no mínimo avisado. O que se segue é citado — vou pensar se devo pedir desculpa por me citar a mim próprio — de uma obra minha, inédita, Manual de Normas de Edição e Revisão:
«Com efeito, em inglês, é habitual o uso do hífen nestes casos. Apesar de mais restrita, a regra do francês é semelhante à inglesa: «On met un trait d’union entre les préfixes non et quasi et le nom ou l’infinitif qui suit, ex.: La non-ingérence, le non-paiement d’une dette, une fin de non-recevoir, la quasi-totalité. On ne met pas de trait d’union entre les préfixes non ou quasi et l’adjectif qui suit, ex.: – Une somme non payée, une date non prévue, un travail quasi parfait (1).» Entre nós, contudo, há opiniões contrárias bem formuladas, como a de Miguel Magalhães, da Direcção-Geral de Tradução da Comissão Europeia, que num texto da publicação A folha (boletim da língua portuguesa nas instituições europeias), n.º 16, Primavera de 2004, apresenta a questão de forma muito clara, concluindo que em muitos casos se trata mais de uma questão estilística do que gramatical (como também faz o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa).»
A língua, sabemos, é um organismo vivo, que evolui, se transforma, adopta novas soluções, se mostra permeável às línguas com as quais está em contacto e é feita pelos seus falantes. Pessoalmente, apenas não me agrada o uso abusivo que em certos textos é dada a esta solução, quando o contexto permitiria soluções muito mais de harmonia com as idiossincrasias da nossa língua.
Nunca me ocupei aqui da questão do uso do hífen depois do elemento não (não-beligerante, não-cumprimento, etc.). Contudo, como o meu interlocutor privilegiado neste blogue me chama a atenção para o facto de ter sido tratada no Ciberdúvidas, referi-la-ei hoje. Começo por concordar que o mais inteligente é a resposta — ou parte dela, para ser mais rigoroso — que é dada. Creio que o realce deve ir para o trecho em que se afirma que «o usuário é árbitro para se fixar em a não valorização ou a não-valorização, o lexicógrafo, porém, não se sentirá compelido a dar tratamento de verbete autónomo a cada ocorrência desse tipo». Carta branca, pois, para o falante? Talvez. Ainda é cedo, dirão os lexicógrafos, para dicionarizar todas estas formas. Pelo meu lado, o que sei é que algumas editoras portuguesas dão instruções precisas para que se evite o uso do hífen nestes casos, o que, tendo em conta a língua de partida da maioria das traduções, me parece no mínimo avisado. O que se segue é citado — vou pensar se devo pedir desculpa por me citar a mim próprio — de uma obra minha, inédita, Manual de Normas de Edição e Revisão:
«Com efeito, em inglês, é habitual o uso do hífen nestes casos. Apesar de mais restrita, a regra do francês é semelhante à inglesa: «On met un trait d’union entre les préfixes non et quasi et le nom ou l’infinitif qui suit, ex.: La non-ingérence, le non-paiement d’une dette, une fin de non-recevoir, la quasi-totalité. On ne met pas de trait d’union entre les préfixes non ou quasi et l’adjectif qui suit, ex.: – Une somme non payée, une date non prévue, un travail quasi parfait (1).» Entre nós, contudo, há opiniões contrárias bem formuladas, como a de Miguel Magalhães, da Direcção-Geral de Tradução da Comissão Europeia, que num texto da publicação A folha (boletim da língua portuguesa nas instituições europeias), n.º 16, Primavera de 2004, apresenta a questão de forma muito clara, concluindo que em muitos casos se trata mais de uma questão estilística do que gramatical (como também faz o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa).»
A língua, sabemos, é um organismo vivo, que evolui, se transforma, adopta novas soluções, se mostra permeável às línguas com as quais está em contacto e é feita pelos seus falantes. Pessoalmente, apenas não me agrada o uso abusivo que em certos textos é dada a esta solução, quando o contexto permitiria soluções muito mais de harmonia com as idiossincrasias da nossa língua.
1 comentário:
Que opina da regra ortográfica que obriga ao uso de hífen em todos os nomes compostos de espécies biológicas, mesmo quando essa hifenização resulta semanticamente redundante? Se é compreensível para nomes compostos de dois substantivos justapostos (peixe-aranha, hortelã-pimenta), resulta absurda em pares de substantivo e adjectivo ou semelhante (falcão-peregrino, pinheiro-negro, carvalho-cerquinho, cipreste-de-lawson)…
Enviar um comentário