A Pública errou
Quatro erros na revista Pública (29.1.2006):
Na rubrica auspiciosamente intitulada «Vale tudo» (p. 16), podemos ler que em «Cadiz» nos podemos deixar raptar por «lendários bandoleros». Tudo a brincar, claro, até porque ainda por cima temos de pagar aos salteadores. Ora, tanto quanto sei, escreve-se «Cádis», topónimo, como a jornalista deve imaginar, há centenas de anos registado na língua portuguesa. Ou também escreve «Oporto»? A propósito, os naturais ou residentes desta cidade do Sul de Espanha são designados gaditanos. Por outro lado, temos os nossos «bandoleiros», tão bons ou tão maus como os espanhóis.
Na reportagem «Sri Lanka, a guerra está a recomeçar», o jornalista achou que escrever «40 civis tamil», «áreas tamil», «centenas de tamil», etc., era o mais correcto (claro, no Livro de Estilo não se diz nada sobre a questão…). Se se tivesse dado ao trabalho de consultar um dicionário, ia ver que o singular é «tâmil» e o plural «tâmiles» ou «tâmeis». Não deixaria também de ver que se pode grafar «tâmul», que pluraliza em «tâmules», pois claro.
No texto sobre a mais recente obra de Agustina Bessa-Luís, Doidos e Amantes, podemos ler que a protagonista, Maria Adelaide, filha do fundador do Diário de Notícias, fugiu com «Manuel Claro, um mancebo bem parecido». Mais cuidado, a palavra tem hífen: bem-parecido. Tal como bem-amado, bem-apessoado, bem-apresentado, bem-comportado, bem-educado, bem-falante…
Por fim, pelo menos por hoje, lê-se nas páginas 21 a 23 um texto sobre JT Leroy, um escritor norte-americano, com uma das obras agora traduzida para português, famoso e talvez sem existência física, que é «ultra-tímido». Isto é o que escreve a jornalista, porque por analogia só podíamos escrever «ultratímido», à semelhança de ultraterreno, ultraterrestre, ultratitânico, ultratropical, ultratumular… todos registados há muito nos nossos dicionários. Os dicionários não registam todos os vocábulos que existem e se usam legitimamente, como a jornalista não ignorará, mas cabe-nos a nós, falantes responsáveis, respeitar o que existe quando nos propomos inovar.
Quatro erros na revista Pública (29.1.2006):
Na rubrica auspiciosamente intitulada «Vale tudo» (p. 16), podemos ler que em «Cadiz» nos podemos deixar raptar por «lendários bandoleros». Tudo a brincar, claro, até porque ainda por cima temos de pagar aos salteadores. Ora, tanto quanto sei, escreve-se «Cádis», topónimo, como a jornalista deve imaginar, há centenas de anos registado na língua portuguesa. Ou também escreve «Oporto»? A propósito, os naturais ou residentes desta cidade do Sul de Espanha são designados gaditanos. Por outro lado, temos os nossos «bandoleiros», tão bons ou tão maus como os espanhóis.
Na reportagem «Sri Lanka, a guerra está a recomeçar», o jornalista achou que escrever «40 civis tamil», «áreas tamil», «centenas de tamil», etc., era o mais correcto (claro, no Livro de Estilo não se diz nada sobre a questão…). Se se tivesse dado ao trabalho de consultar um dicionário, ia ver que o singular é «tâmil» e o plural «tâmiles» ou «tâmeis». Não deixaria também de ver que se pode grafar «tâmul», que pluraliza em «tâmules», pois claro.
No texto sobre a mais recente obra de Agustina Bessa-Luís, Doidos e Amantes, podemos ler que a protagonista, Maria Adelaide, filha do fundador do Diário de Notícias, fugiu com «Manuel Claro, um mancebo bem parecido». Mais cuidado, a palavra tem hífen: bem-parecido. Tal como bem-amado, bem-apessoado, bem-apresentado, bem-comportado, bem-educado, bem-falante…
Por fim, pelo menos por hoje, lê-se nas páginas 21 a 23 um texto sobre JT Leroy, um escritor norte-americano, com uma das obras agora traduzida para português, famoso e talvez sem existência física, que é «ultra-tímido». Isto é o que escreve a jornalista, porque por analogia só podíamos escrever «ultratímido», à semelhança de ultraterreno, ultraterrestre, ultratitânico, ultratropical, ultratumular… todos registados há muito nos nossos dicionários. Os dicionários não registam todos os vocábulos que existem e se usam legitimamente, como a jornalista não ignorará, mas cabe-nos a nós, falantes responsáveis, respeitar o que existe quando nos propomos inovar.
2 comentários:
E de resto o LdEdP aponta os prefixos com as regras de hifenação para cada um... O problema é que a regra é ultra-ignorada, e há hífens e não-hífens por todo o lado.
Por essa ordem de ideias, deveriam os portugueses voltar a escrever "Badalhouce" em lugar de Badajoz, Castelões em lugar de Castelhanos, Castelão em lugar de Castelhano…
Enviar um comentário