21.4.06

Haplologia

Patinar nas sílabas


      Por muito que tente, não consigo pôr uma vizinha a dizer «estendal». Pelo menos com convicção. Diz sempre «estendedal». Eu bem lhe pergunto se acaso também diz «bondadoso», mas ela não compreende o meu argumento. Mas são palavras diferentes, contrapõe. Pois são, concordo, mas o fenómeno ― a haplologia, um caso particular de dissimilação ― que presidiu à sua formação é o mesmo: para evitar, por pouco eufónica, a sequência de duas sílabas semelhantes, elidiu-se uma delas, reduzindo-se a primeira. Veja: bondade + oso = bondadoso. Agora desculpe-me, é que são horas da Floribella, remata a conversa.

Outros exemplos de haplologia: formicida por formicicida; gratuidade por gratuitidade; idolatria por idololatria; idoso por idadoso; piedoso por piedadoso; saudoso por saudadoso; semínima por semimínima; tragicomédia por tragicocomédia e um extenso rol de designações de ciências, como mineralogia em vez de mineralologia. Viu bem, caro leitor: também o vocábulo «haplologia» poderia ter sido reduzido a «haplogia» — e só não foi porque é um termo, como se compreende, pouco usado. O grego haplo significa simples. Ora, só é necessário simplificar quando é muito utilizado.

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