18.4.06

Ortografia: «crude»

Crudelíssima língua

Seguindo a lição do Dicionário da Academia, o Diário de Notícias escreve sempre «crude» como se de uma palavra portuguesa se tratasse:
«A petrolífera, que é uma das dez maiores a nível mundial, colocou a tónica nos preços dos produtos refinados e na alta do crude, embora tenha frisado que “o preço do petróleo tem um reflexo mais indirecto nestas subidas”» […] «António Saleiro, presidente da Associação de Revendedores da Petrogal, disse que as subidas não se devem apenas à alta do crude ou ao imposto — que fez os preços aumentarem em Janeiro», «Gasolina atinge o preço mais alto de sempre», Diana Mendes, 14.4.2006, p. 23.
O Público, por sua vez, não está convencido e grafa-o como estrangeirismo:
«Por exemplo, em termos reais, os preços actuais do crude estão ao nível de 1981, quando o petróleo disparou devido à guerra Irão-Iraque» […] «A escalada do preço do petróleo é muito penalizadora para Portugal, uma vez que 62 por cento da energia consumida no país é produzida através de crude importado», «Petróleo e metais disparam nos mercados internacionais», Anabela Campos e Tiago Trovão, 12.4.2006, p. 34.
A verdade é que a palavra é inglesa: crude, de crude oil. (do lat. crudus) Designa o que não está refinado, o que é imperfeito, bruto, rude. É vulgar ver-se na imprensa a expressão «petróleo em bruto» ou «petróleo bruto» para designar o mesmo — e mais correctamente. Creio que, neste caso, a pronúncia semelhante em ambas as línguas muito contribuiu para alguns a acharem portuguesa ou facilmente apropriável.

1 comentário:

Anónimo disse...

Presumo que se esta a referir ao Dicionario da Academia de Ciencias de Lisboa.
Infere-se do seu texto que nao concorda com a interpretacao do mesmo sobre esta palavra.
Mas qual e a sua opiniao pessoal acerca da obra como um todo.
Qual e a ultima edicao desse dicionario? Ja ha 2 anos que nao vou a Portugal pelo que certamente tenho uma edicao desactualizada.